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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

QUANDO UM CONCERTO NÃO PARECE PEQUENO

A guitarra de Tó Trips e o contrabaixo de Pedro Gonçalves foram os grandes protagonistas do concerto dos Dead Combo na passada sexta-feira na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, à semelhança do que ocorre nos discos da dupla, onde esses dois instrumentos são a base para que se percorram uma série de territórios sonoros aparentemente díspares mas que o projecto sabe como tornar complementares.

Previsto para as onze da noite, o espectáculo arrancou com quase uma hora de atraso, o que acabou por dar tempo para que os espectadores fossem chegando, conversando e ambientando-se, pelo que quando o duo entrou em palco já a sala se encontrava repleta para acolher os temas de "Vol. 1" e "Vol. 2: Quando a Alma não é Pequena".

Todas instrumentais, as canções cruzaram géneros e referências, viajando por domínios que tanto tocaram o jazz, o tango ou o rock alternativo, aproximando-se ainda do blues ou de bandas-sonoras de westerns, dos Calexico ou de Ennio Morricone.
Curioso é o facto de, apesar de marcadas por um travo cosmopolita, as composições dos Dead Combo não deixarem de evidenciar sinais de uma génese ainda muito portuguesa, emanando uma carga por vezes tão melancólica e soturna que quase traduz o sentimento do fado. "Assobio (canção do avô)" terá sido uma das mais paradigmáticas dessa ressonância lusa, que Tó Trips revelou ter sido inspirada no assobio de Vasco Santana n'"O Pátio das Cantigas". Já as versões de "Like a Drug", dos Queens of the Stone Age - em modo "música de restaurante chinês" -, e de "Temptation", de Tom Waits, foram casos de mais evidentes contaminações externas.

Estabelecendo uma interessante ponte imaginária entre os bairros típicos lisboetas e os áridos desertos norte-americanos - e esta será só uma das hipóteses -, a música do duo não conteve, contudo, fôlego suficiente para entusiamar ao longo da cerca de hora e meia de duração do concerto. Por um lado, muitos dos temas são demasiado semelhantes, tornando-se por vezes difíceis de distingir, e ao vivo não sofrem grandes alterações face ao que se ouve nos discos; por outro, a postura demasiado estática da dupla e o minimalismo cénico não proporcionaram muitas surpresas.

Tó Trips dirigiu-se várias vezes ao público, com algum sentido de humor, em breves comentários que foram apresentando os temas, e em alguns momentos a dupla tornou-se num trio pela contribuição de Ana Araújo no piano, mas só isso não serviu para conceder especiais mais-valias a um concerto que no seus piores episódios foi sonolento e nos melhores apenas correcto, apesar da demonstração de técnica e das por vezes intrigantes paisagens sugeridas.

E O VEREDICTO É:
2/5 - RAZOÁVEL



Dead Combo - "Cacto"

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