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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

A cor do dinheiro

Filmes ou séries centrados em acontecimentos da Segunda Guerra Mundial têm sido uma constante nas últimas décadas e, por isso, nem sempre cada nova produção consegue apresentar pontos de vista originais.

 

"Os Falsificadores" (Die Fälscher), do austríaco Stefan Ruzowitzky, parece ser um desses casos durante os primeiros minutos, revisitando os dramas dos judeus aprisionados em campos de concentração mas sem uma abordagem que se distinga de tantas outras. Aos poucos, contudo, o filme vai adquirindo maior consistência e singularidade, quando segue o quotidiano do protagonista e dos restantes colegas encarcerados que trabalham para os nazis como falsificadores de dinheiro, uma acção secreta que pretende atingir a economia dos Aliados.

 

 

Ruzowitzky adapta o livro "The Devil's Workshop", de Adolph Burger, baseado em factos verídicos, e retrata aqui um curioso episódio de cumplicidade, ainda que forçada, entre judeus e nazis, onde o grupo de prisioneiros gozou de condições um pouco melhores do que as habituais num campo de concentração e o exército alemão lucrou à custa do trabalho desses especialistas na falsificação de notas.

 

"Os Falsificadores" não será das melhores obras baseadas no Holocausto, mas é um filme sério e inteligente, que evita cair num tentador maniqueísmo já que tanto o retrato dos judeus como o dos soldados nazis é ambíguo, apontando o oportunismo de alguns dos primeiros e salientando que os segundos eram também, à sua maneira, vítimas das circunstâncias, ou que pelo menos não estavam imunes a pressões do topo da hierarquia - embora o argumento nunca sugira qualquer desculpabilização dos seus actos.

 

 

A nível formal não há aqui nada de muito arriscado, pois apesar da fotografia ser contaminada por apropriados tons sépia a realização não anda muito longe da de séries televisivas que decorrem no mesmo período, ainda que seja capaz de desenhar um competente efeito realista nos cenários e personagens. O elenco também contribui para isso, sobretudo o protagonista Karl Markovics e David Striesow, o seu nemesis de quem se torna quase um confidente.

 

Mais convincente do que arrebatador, "Os Falsificadores" é uma obra que merece atenção, e que felizmente deverá ganhar alguma pela sua nomeação para o Óscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira.

 

A descobrir esta noite, pelas 21h30, no cinema São Jorge, no início da KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã.