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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Pequenos romances, depressões e indisposições

Com "Canções Subterrâneas" (2004) criou as bases para uma sonoridade peculiar, em "3 Minutos Antes de a Maré Encher" (2006) consolidou-as, e em "Uma Inocente Inclinação Para o Mal", editado este ano, A Naifa demonstrou que já a domina mesmo que sem o acréscimo de um qualquer elemento-surpresa.

 

Ontem, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, partiu deste último mas não esqueceu os antecessores, deixando evidente que possui um universo muito próprio, tanto a nível sonoro, nascido da conjugação de tradição (a herança do fado) e modernidade (a pop de travo electrónico), como lírico, onde as letras de Adília Lopes, José Luís Peixoto ou Maria Rodrigues Teixeira (a única letrista do novo álbum), entre outros, desenham cortantes e aguçados retratos de um quotidiano tipicamente português.

 

 

As digressões de anos anteriores já tinham evidenciado que Luís Varatojo (guitarra portuguesa), João Aguardela (baixo), Paulo Martins (bateria) e Maria Antónia Mendes, ou Mitó (voz) são seguros em palco, e a noite de ontem não foi excepção.

Alternando temas novos com antigos, começaram com os primeiros ainda que tenham sido sempre os segundos os que conquistaram maior adesão, não só porque parte do público ainda não terá tido tempo para absorver o último disco mas porque este não é tão pródigo em pérolas como "Monotone" ou "Todo o Amor do Mundo Não foi Suficiente".

 

Nada de muito grave, até porque canções como "Esta Depressão que me Anima" ou "Um Feitio de Rainha" tiveram algum impacto, embora não contem com a contagiante pulsão rítmica de "Música" ou com o misto de encanto e crueza de "A Verdade Apanha-se com Enganos".

 

Expondo a consistência habitual, o espectáculo pecou por não surpreender muito quem já conheça A Naifa ao vivo, pois à excepção dos temas novos o modelo segue o das digressões anteriores, com um arranque e desenvolvimento sóbrios que contrastam com momentos finais mais dinâmicos - e algo abruptos, pois o concerto durou apenas uma hora.

 

 

Cenicamente o minimalismo continua a prevalecer, vincado por um painel no fundo do palco que mudou de cor mediante os temas (aliando beleza e eficácia) e os contactos da banda com o público mantêm-se escassos, não indo além dos agradecimentos de Mitó - embora talvez nem precisem de falar muito quando as canções já dizem tanto.

 

Como também já se tornou típico, o concerto terminou em alta, tanto com a versão de "Subida aos Céus", dos Três Tristes Tigres (provavelmente o momento mais intenso da noite), com a energia dançável de "Señoritas" (uma das melhores canções do grupo) e, por fim, com o segundo encore, servido com a revisitação de "A Desfolhada", de Simone de Oliveira.

Nada de muito inesperado, é certo, mas enquanto mantiver esta consistência A Naifa será sempre um projecto recomendável ao vivo.

 

 

 

A Naifa - "Señoritas"