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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

No reino da infância

 

"Moonrise Kingdom" tem Wes Anderson estampado em cada fotograma. Dos enquadramentos à fotografia, da linguagem corporal às expressões das personagens, passando pela indumentária e adereços (com uma direcção artística perfeccionista como poucas), há uma estética que, goste-se ou não, só poderia trazer a assinatura do norte-americano.

 

Se no plano formal estamos em território reconhecível e idiossincrático, as temáticas deste sétimo filme não divergem das que o realizador tem vindo a abordar desde "Bottle Rocket" (1996): a família (e as suas disfuncionalidades), o crescimento, a diferença, a inadaptação ou a solidão, trabalhadas num argumento onde o drama não passa sem a comédia (e vice versa).

 

Mais do mesmo? De certa forma sim, mas ao contrário de grande parte da filmografia de Anderson, aqui a narrativa é mais do que uma acumulação vistosa (e exibicionista) de maneirismos, excentricidades e citações cinéfilas, com as personagens a conseguirem ir um pouco além da caricatura (os protagonistas, pelo menos) e uma carga dramática mais equilibrada do que o habitual.

 

Nos seus melhores momentos, "Moonrise Kingdom" é mesmo dos olhares sobre a infância mais bonitos (e por isso melancólicos) que têm chegado ao grande ecrã ultimamente, com a proeza de nos dar a ver o mundo a partir dos seu par protagonista - um casal pré-adolescente que tenta fugir do mundo dos adultos enquanto partilha a paixão pelo escapismo da literatura infantil/fantástica, da música pop emergente (a acção é ancorada nos anos 60) ou da curiosidade que leva à aventura (maior do que a vida, mas plausível quando se tem 11 ou 12 anos).

 

Como esta não deixa de ser uma obra de Wes Anderson, ainda há mudanças despropositadas de tom (a sequência com Jason Schwartzman ou a cena do raio, por exemplo, só estão aqui para reforçar o obrigatório travo offbeat) e o virtuosismo formal, que torna o filme numa elaborada peça de relojoaria, trava alguma força emocional. Mas desta vez, a qualidade sai quase sempre a ganhar ao defeito (ou feitio, se quisermos, que continua a não ser para todos...).

 

 

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