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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Born this way (ou quase)

 

"X-Men: O Início" quase poderia chamar-se "Magneto: O Início" (filme que esteve para ser feito), uma vez que esta prequela da trilogia dos mutantes vive muito da personagem que controla o metal. E ainda bem, não só porque Magneto é um dos vilões mais fascinantes dos comics mas também porque Michael Fassbender, em mais uma interpretação a roçar o brilhantismo (ainda há pouco o vimos em "Jane Eyre"), consegue dar-lhe a ambiguidade, intensidade e carisma que o papel pedia.

 

Sem uma bagagem emocional comparável, o Professor Xavier de James McAvoy começa por ser pouco mais do que um menino rico capaz de ler mentes, caricatura que o actor - e um argumento bem carpinteirado - tratam de ir diluindo ao longo do filme.

Da ligação entre as duas personagens nasce o aspecto mais interessante de "X-Men: O Início" e, claro, a base para toda a história dos X-Men, que parte das visões opostas que estes (futuros) líderes têm das relações entre humanos e mutantes.

 

Mas se esta história de amizade e separação é o coração do filme, há mais para descobrir neste início segundo Matthew Vaughn. Depois do óptimo "Kick-Ass - O Novo Super-Herói", o realizador britânico voltou a um filme do mesmo género, embora agora aposte numa vertente mais cerebral do que delirante (e nesse aspecto, respeita a digníssima trilogia comandada por Bryan Singer).

 

Os fãs mais puristas talvez não aprovem, à partida, uma versão livre das origens da equipa de mutantes, que tanto assenta em personagens clássicas e populares (as duas já referidas, por exemplo) como em notas de rodapé do universo X (Darwin, Angel ou Draco serão os casos mais flagrantes). A essência dos X-Men, contudo, mantém-se intacta, porque por mais alterações que Vaughn tenha feito (caso da bem pensada ligação de Mystique a Xavier e Beast) esta ainda é uma história ancorada no tema da diferença, da tolerância e da aceitação - nem sempre muito subtil, é verdade, mas equilibrada com algumas doses de ironia.

 

A seu favor, Vaughn tem ainda o facto de ambientar a acção no período da Guerra Fria, zeitgeist perfeito para o desenrolar dos acontecimentos, e de não se limitar a contar uma história de unir os pontos tendo os efeitos especiais como plano B.

Tal como nos melhores momentos dos X-Men na BD, as relações entre as personagens falam sempre mais alto do que qualquer superpoder, o que não invalida duas ou três sequências de acção dignas de elogios (sobretudo aquela em que os jovens mutantes são repentinamente atacados, com uma bem-vinda injecção de suspense).

Por último, mas não menos importante, "X-Men: O Início" também prova que é possível fazer um filme dos heróis mutantes sem Wolverine (ou quase, ou quase, deixando já aqui um spoiler). Com o Magneto de Fassbender, dificilmente alguém sentirá a sua falta.