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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Pára ou a mamã dispara

 

Poucas séries recentes geraram tanta inquietação em boa parte dos fãs como "Segurança Nacional". Com a morte de uma das personagens principais no final da terceira temporada, muitos dos que acusavam a produção do Showtime de redundância - por não se fartar de aplicar variações ao jogo do gato e do rato entre a dupla protagonista - foram os mesmos que não perdoaram uma despedida impecavelmente orquestrada (e a mostrar coragem por parte dos criadores).

A estreia da quarta temporada vem provar, no entanto, que esse adeus, por muito doloroso que possa ter sido - para os espectadores e algumas personagens -, foi o melhor que poderia ter acontecido a uma série que ameaçava ficar refém da premissa inicial, mesmo que nunca tenha deixado de se acompanhar com interesse.

Carrie Mathison, muito bem defendida por Claire Danes, não concordará. Ser mãe não estava nos seus planos - ser mãe solteira ainda menos - e o facto de ter sido promovida para chefe de estação da CIA em Cabul não é grande compensação. Antes pelo contrário, já que uma decisão difícil que envolve um terrorista paquistanês corre da pior maneira e, além de lançar o rastilho para a acção da quarta temporada, é um dos momentos que marcam a maior viragem da personagem até agora.

 

 

Mais do que a mudança de local (dos EUA para o Médio Oriente), da entrada em cena de novas caras (como um adolescente paquistanês com um percurso nada óbvio) ou de um olhar mais atento a algumas das antigas (continua assim, Peter Quinn), o novo status quo de "Segurança Nacional" parte da postura estranhamente fria e distante de Carrie, um embate servido de forma crua no primeiro episódio (a que até outras personagens reagem com estupefacção) e mais aprofundado no segundo (quando compreendemos que nada tem de gratuito e é uma evolução natural das temporadas anteriores).


Se séries como "Os Sopranos", "Breaking Bad" ou "Mad Men" se distinguiram muito pelos protagonistas moralmente ambíguos, politicamente incorrectos e pouco empáticos, mas ainda assim (ou por isso mesmo) fascinantes, o caminho da personagem de Claire Danes sugere aqui contornos comparáveis (embora felizmente longe do extremo quase cartoonesco de um Kevin Spacey em "House of Cards").

Esta atitude mais impiedosa a nível profissional convive com o absoluto desnorte a nível pessoal, desta vez não pelas relações amorosas nem pela doença bipolar, mas graças a um papel de mãe recorrentemente adiado. O segundo episódio, quando Carrie não consegue esquivar-se a passar um dia com a filha (a propósito, é impossível não realçar o casting perfeito do bebé), consegue ir do espirituoso ao angustiante. Quase estica a corda na segunda vertente, é certo, mas também mostra que, apesar da popularidade e dos prémios, esta ainda é uma série disposta a correr riscos e a não facilitar a vida às personagens (nem aos espectadores) com um mundo a preto e branco - só assim é possível torcer pela protagonista com o instinto maternal mais questionável do pequeno ecrã.