Quando um regresso é um exílio
Não é preciso esperar pela rentrée para ouvir alguns dos regressos mais promissores do ano. Um bom exemplo é "Exile in the Outer Ring", o quarto álbum de EMA, que chega já esta sexta-feira, 18 de Agosto, e traz a mais recente colecção de canções de Erika Michelle Anderson desde o óptimo "The Future's Void", de 2014 (se não incluirmos nestas contas a banda-sonora instrumental do filme "#Horror", de 2015).
Tal como os anteriores, o disco é uma experiência de catarse que musicalmente promete retomar a folk e o noise dos primeiros registos da norte-americana, dando menos protagonismo às contaminações electrónicas da fase mais recente - a produção de Jacob Portrait, dos Unknown Mortal Orchestra, terá alguma coisa a ver com isso, e um tema mais sintético, como o já revelado "Breathalyzer", estará entre as excepções.
A nível temático, o ponto de partida foi um retrato dos subúrbios e do interior da América de Trump (mesmo que a cantautora saliente ter trabalhado muitas faixas antes das eleições), colocando em confronto a gentrificação do centro e a ansiedade da classe operária, a alienação e a resiliência.
Mas mais do que o mote, interessa sobretudo o resultado, que até agora tem sido encorajador. "Blood and Chalk", divulgada há poucos dias, é uma digna descendente da faceta intimista de "Past Life Martyred Saints" (2011), comandada por uma voz que não perdeu a força nem o encanto. Mais imediata, "Down and Out" (videoclip abaixo) transforma um relato sobre a frustração ("Everyone thinks you're worthless when you're down and out") numa delícia indie pop com potencial de hino. Venha então o álbum e, já agora, um concerto por cá - sobretudo quando EMA tem agendada uma digressão com os também regressados The Blow.