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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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A SOLIDÃO E A CIDADE

Uma das pequenas pérolas indie de 2005, "Uma Rapariga Cheia de Sonhos" (Shopgirl) baseia-se num livro de Steve Martin, que para além de adaptar o argumento assume ainda o papel de produtor e actor deste filme de Arnand Tucker.

Se pela tradução portuguesa do título esta película pode ser confundida com mais uma comédia romântica de usar e deitar fora, este rótulo revela-se enganador, já que "Uma Rapariga Cheia de Sonhos" avança por outros domínios. Há alguma comédia, sim, mas mais amargurada do que açucarada, assim como há romance, que contudo não se enquadra dentro dos formatos dos típicos chick flicks.

O filme agarra-se ao percurso de três habitantes de Los Angeles, que apesar de muito diferentes encontram-se interligados pela solidão, elemento que desencadeia as suas relações.
Mirabelle (Claire Danes) é uma jovem balconista de uma loja de artigos de luxo, que testemunha um quotidiano rotineiro, pouco auspicioso e sem grandes perspectivas, mas ao travar dois novos conhecimentos descobre que ainda pode haver espaço para alguma dose de surpresa no seu dia-a-dia.

Pouco depois de iniciar uma repentina relação com Jeremy (Jason Schwartzman), um jovem tímido, espirituoso e atrapalhado, a protagonista envolve-se com Ray (Steve Martin), um bem-sucedido homem de meia idade, relacionamento que se sobrepõe ao primeiro e que dá início a uma complexa viagem emocional, onde a entrega e o egoísmo se entrelaçam, deixando dúvidas quanto à possibilidade de consumação do amor.

Contemplativo e atmosférico, pontuado por um realismo etéreo próximo dos ambientes de Sofia Coppola (em particular dos de "Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho"), "Uma Rapariga Cheia de Sonhos" contém um olhar adulto sobre as contrariedades das relações humanas (onde entram a carência emocional ou a falta de comunicação), aqui abordadas com um filtro agridoce, com tanto de idealista como de desencantado.

Tucker apresenta um polido trabalho atrás das câmaras, concedendo ao filme uma aura urbana e poética e edificando uma Los Angeles que raramente terá sido tão melancólica.
A direcção de actores não é tão conseguida, pois se Claire Danes está magnética e brilhante, confirmando-se como uma das actrizes mais expressivas e versáteis de hoje, Steve Martin abusa da pose distante e fria, tornando a sua personagem num esboço, e Jason Schwartzman repete o tipo de figura offbeat que o tem demarcado, encarnando um Jeremy que, apesar de gerar empatia, é demasiado caricatural.

O filme também é algo debilitado por se tornar um pouco monótono em certos momentos e pela banda-sonora muitas vezes intrusiva, mas globalmente é uma obra que irradia inteligência e sensibilidade, não merecendo por isso passar despercebida. Uma boa surpresa.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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