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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

NASCIDOS PARA MATAR

Inspirado na novela gráfica homónima criada por Frank Miller e Lynn Varley, "300" narra a batalha de três centenas de espartanos, liderados por Leónidas, contra os milhares de persas sob o comando de Xerxes, um dos combates mais míticos ocorridos na Grécia antiga.
Longe de procurar ser um relato factual e historicamente aprofundado dos acontecimentos ou mesmo das civilizações em jogo, o filme mais não pretende do que oferecer duas horas de entretenimento com elevados níveis de testosterona e cenas de forte apelo visual - características já dominantes, de resto, na banda-desenhada que lhe deu origem.

Ora, se ninguém aqui procurar uma análise complexa das facções que se opõem, a mais recente obra de Zack Snyder - realizador do elogiado remake d'"O Renascer dos Mortos" - cumpre sem grandes falhas aquilo a que se propõe, oferecendo algumas das mais inspiradas sequências de combate dos últimos tempos - talvez desde "Sin City - A Cidade do Pecado", também baseada numa novela gráfica de Miller -, vincadas por um espírito apropriadamente larger than life e onde a credibilidade não deve ser um factor a considerar.

Grande parte do apelo visual deve-se ao recurso às tecnologias digitais, nomeadamente à utilização do blue screen (todo o filme foi filmado em estúdio, sem quaisquer cenários, que foram posteriormente adicionados digitalmente), já utilizado noutras películas - como "Sky Captain e o Mundo do Amanhã" - mas que aqui adquire um apuro notável, fundindo animação e imagem real e lançando bases para uma sedutora nova linguagem.
Em alguns momentos, "300" supreende por se assemelhar a uma autêntica transposição de vinhetas da BD, aproximando-se muito de algumas páginas desenhadas por Lynn Varley, e os contrastes de luz e sombra ou os milimétricos cromatismos dos cenários revelam um perfeccionismo que concede ao filme uma singular energia e envolvência.

Nem tudo brilha, contudo, e se a nível formal não há nada a apontar, o filme exibe maiores fragilidades na narrativa, pouco mais do que sucessivas sequências de combate pontualmente intervaladas por momentos de intriga política ou romântica. As personagens não passam de arquétipos sem nuances ou densidade - à excepção, talvez, dos Reis de Esparta -, por isso os seus conflitos nunca vão além de um cerrado maniqueísmo, pouco propício a uma espessura dramática intrigante. Do elenco, destaca-se apenas Gerard Butler, carismático na pele do obstinado Leónidas, e um irreconhecível Rodrigo Santoro, um cabide de jóias e maquilhagem que faz de Xerxes a figura mais delirante do filme.

Estes desequilíbrios não impedem, mesmo assim, que "300" seja um muito eficaz divertimento, sangrento e excessivo q.b., mais inventivo, áspero e politicamente incorrecto (não escondendo uma provocatória carga homoerótica) do que a maioria dos blockbusters e menos canónico do que os épicos habituais. Ostensiva tanto na componente visual como na sonora (ouça-se a explosiva amálgama musical composta por Tyler Bates), é daquelas obras cujo extremismo tanto poderá gerar paixões imediatas como uma legião de anticorpos, não surpreendendo por isso que tenha dividido a crítica.
Menos compreensíveis são as acusações de fascismo, xenofobia ou americanismo, uma vez que Snyder parece mais interessado em apostar numa desregrada descarga de adrenalina do que numa reflexão acerca do contexto político actual. Seja como for, nada como ver o filme para tirar as dúvidas.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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