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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

FREAK SHOW

Uma das figuras que, goste-se ou não, marcou a música dos anos 90, Marilyn Manson chocou ou entusiasmou através de uma imagem singular e minuciosamente trabalhada, que embora evidenciasse referências conseguia, ainda assim, marcar pela diferença.

A sua discografia tem apresentado um conjunto de temáticas onde a violência, a morte, a religião, a fama ou o sexo se entrelaçam, gerando reflexões ou retratos das sociedades de hoje, devidamente carregados de bizarria e, por vezes, um humor cáustico e cortante.

Desde os dias mais marginais de “Portrait of an American Family”, de 1994, passando pelo marcante “The Antichrist Superstar”, dois anos depois, ou por “The Golden Age of Grotesque”, de 2003, que a banda – ou o artista, afinal a face mais visível desta – tem enveredado por territórios sonoros entre o gótico, o metal e o industrial, mas o seu álbum mais atípico – e provavelmente o mais interessante -, “Mechanical Animals”, de 1998, não evita contaminações da pop ou do glam rock, e reforça ainda a carga electrónica que já se encontrava em registos anteriores mas de forma mais discreta.

À semelhança de David Bowie e do seu alter-ego Ziggy Stardust, também Marilyn Manson cria aqui uma persona que orientou a criação do álbum, Omega, um alien andrógino e bizarro, reforçando a ousadia e peculiaridade visual que já destacava o músico (que pode ser visto logo na intrigante capa do disco).

Para a considerável mudança das sonoridades de “Mechanical Animals” face aos trabalhos anteriores da banda não terá sido alheia a cisão da colaboração com Trent Reznor, dos Nine Inch Nails, cuja marca pessoal era bem evidente em “Antichrist Superstar”, mas em contrapartida o grupo colabora aqui com Billy Corgan – embora este tenha sido, supostamente, apenas um consultor – e o produtor Michael Beinhorn.

As alterações no trabalho de produção são notórias, uma vez que Beinhorn não aposta tanto nas texturas densas e sujas que caraterizaram o grupo até então mas antes torna os ambientes mais polidos e acessíveis, à semelhança do que fez no brilhante “Celebrity Skin”, das Hole, que produziu no mesmo ano (e que, curiosamente, também contou com a colaboração de Corgan).

Assim, “Mechanical Animals” é um disco que, muitas vezes, contém atmosferas surpreendentemente calmas, tendo em conta as sonoridades a que a banda é mais frequentemente associada, como em “Disassociative” e “The Speed of Pain”, duas baladas desencantadas, ou na atípica mas envolvente “Fundamentally Loathsome”.

Ainda há, no entanto, vários momentos carregados de adrenalina, como o visceral “Posthuman”, o igualmente dinâmico “Rock is Dead” ou o portentoso “User Friendly” (com um corrosivo olhar sobre as relações actuais, bem expresso em frases como “I’m not in love but I’m gonna fuck you ‘til somebody better comes along”).

Mesclando o synth-pop da década de 80 com o rock industrial dos anos 90, recuperando traços do glam de 70 e até pontuais traços de gospel (como em “I Don’t Like the Drugs (But the Drugs Like Me)”), “Mechanical Animals” não esconde influências de David Bowie, Nine Inch Nails (que em “The Fragile” e “With Teeth” percorreriam ambientes não muito distantes), Gary Numan, The Cure ou New Order – exibindo ainda pontos de contacto com “TheFutureEmbrace”, de Billy Corgan -, mas sabe readaptar essas sonoridades para originar um álbum coeso e estimulante (embora um pouco longo).

Mesmo que se tenham reservas quanto à relevância ou interesse de Marilyn Manson, este é um disco digno de nota e um dos mais coesos da sua irregular discografia, mantendo-se ainda actual e recomendável.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

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