VÔOS DA MEIA-NOITE
Destacando-se pela sua competente filiação no género do terror - originando títulos marcantes como "Pesadelo em Elm Street" ou "Gritos" -, Wes Craven não tem gerado, nos últimos anos, projectos que reproduzam a boa recepção de público e de crítica que alguns dos seus títulos mais emblemáticos despoletaram (os mais recentes "Melodia do Coração" e "Cursed" decretaram, para muitos, o declínio do cineasta).
"Red Eye", o seu novo filme, junta dois dos jovens actores mais promissores de Hollywood, Rachel McAdams (que integra o elenco da mediática comédia "Os Fura-Casamentos") e Cillian Murphy (com provas dadas em "28 Dias Depois", "Intervalo" ou "Batman: O Início"), e herda características da série-B ao apostar em modestos meios de produção, num argumento simples e numa narrativa escorreita, oferecendo um concentrado de thriller onde o terror habitualmente associado ao realizador é sobretudo psicológico.
A película centra-se num dos muitos vôos nocturnos (conhecidos como red eye), em particular em dois dos seus passageiros: Lisa, uma jovem gerente de hotel, e Jackson, um simpático e atraente colega de vôo com quem trava conhecimento.
Apesar dos momentos iniciais entre os dois protagonistas serem leves e divertidos, marcados por uma aparente empatia mútua, essas primeiras impressões não se comprovam como as mais fidedignas pois Jackson revela a Lisa que o seu encontro nada teve de casual, uma vez que ela faz parte, ainda que não o saiba, de um intrincado plano para eliminar um elemento do governo americano.
Para que a missão de Jackson seja bem sucedida, Lisa terá de seguir uma série de instruções, e caso se recuse a fazê-lo o seu pai será morto.
Durante uma considerável parte do filme, Craven consegue fazer com que esta premissa resulte, uma vez que a relação que os dois protagonistas desenvolvem durante a viagem de avião contém doses suficientes de imprevisibilidade e tensão, desencadeando cenas intrigantes e claustrofóbicas onde cada minuto conta e qualquer interferência (nomeadamente a de outros passageiros) poderá ser decisiva.
Executando um hábil exercício de estilo, equilibrando bem a gestão do suspense e assinalando uma sólida direcção de actores (Cillian Murphy acentua a presença inquietante exposta em "Batman: O Início" e Rachel McAdams surpreende combinando carisma e vulnerabilidade), o realizador proporciona um apropriadamente desconfortável vôo pleno de intensidade.
Infelizmente, a consistência do filme decresce abruptamente nos últimos vinte minutos, quando as personagens saem do avião e a acção pouco mais faz do que limitar-se a seguir os estafados clichés dos famigerados slasher movies, na linha dos muitos subprodutos que se inspiraram na trilogia "Gritos".
Assim, em vez de um desenlace vertiginoso que se esperava, "Red Eye" termina de forma pouco verosímil e ainda menos inspirada, e quem sofre com isso, para além do espectador, são os dois protagonistas, que perdem os traços de credibilidade que mantinham até então e tornam-se em meros joguetes descaracterizados (a personagem de Murphy é a mais debilitada, passando de soturna a patética).
Os momentos finais do filme não chegam a arrasá-lo por completo, mas é pena que boas sequências de suspense fiquem assim subaproveitadas numa película que, apesar de possuir bons ingredientes, fica presa a uma desapontante mediania.
Em todo o caso, "Red Eye" é ainda uma interessante experiência cinematográfica, mesmo que nunca atinja os altos vôos que algumas das suas cenas sugerem...
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL