O REGRESSO DO CAVALEIRO DAS TREVAS
Nos últimos anos, o universo da banda-desenhada tem servido de fonte de inspiração para múltiplos filmes, desde mediáticos super-heróis – “Homem-Aranha”, “X-Men” – até referências mais marginais – “Sin City – A Cidade do Pecado” ou “Ghost World – Mundo Fantasma”.
Num perído onde adaptações de ícones dos comics germinam como cogumelos, uma das personagens essenciais desses domínios teria de ser (re)aproveitada para mais um novo olhar cinematográfico. “Batman: O Início” (Batman Begins) assinala o regresso do alter-ego de Bruce Wayne a territórios da sétima arte depois das visões de Tim Burton (que criou os aclamados “Batman” e “Batman Regressa”) e Joel Schumacher (responsável pela ridicularização do defensor de Gotham City em “Batman Para Sempre” e, sobretudo, “Batman e Robin”).
Tendo em conta os resultados desequilibrados dos filmes anteriores, esta nova aventura do homem-morcego era aguardada com expectativa e alguma relutância, mas as probabilidades do resultado ser competente aumentaram quando Chris Nolan, realizador do interessante filme de culto “Memento” e do curioso, mas mais convencional policial “Insónia”, assumiu a direcção do projecto.
Embora Nolan não se tivesse responsabilizado por um blockbuster até agora, a sua primeira experiência num filme desta dimensão não só é bem sucedida como proporciona o seu melhor filme até à data.
Mais centrado na dicotomia Bruce Wayne/Batman do que no carácter dos seus antagonistas (contrariando, assim, a tendência das adaptações anteriores), “Batman: O Início” explora o homem por detrás da máscara (ou a máscara por detrás do homem?), debruçando-se sobre as tensões e fragilidades do protagonista e evidenciando os motivos que suscitaram que um playboy milionário se tornasse num super-herói repleto de contrariedades.
Nolan constrói aqui uma obra inspirada, mas ainda assim irregular, uma vez que o olhar sobre o lado psicológico de Batman nem sempre é convincente (os momentos iniciais, repletos de frases feitas pseudo-profundas da filosofia oriental, são esteriotipados e insípidos) e a envolvente aura intimista que o filme vai desenvolvendo é subitamente interrompida quando o argumento cede, nos últimos momentos, aos lugares-comuns de um banal blockbuster (não é que Nolan não seja competente nas cenas de acção, mas as doses de adrenalina do desenlance são pouco espontâneas e demasiado formatadas).
Mesmo com essas limitações, “Batman: O Início” impõe-se como um filme sólido e adulto, com personagens estimulantes e notáveis interpretações de todo o elenco.
Não sendo uma obra-prima, “Batman: O Início” é, contudo, um dos melhores blockbusters do Verão de 2005 e vai além dos requisitos mínimos de um filme-pipoca, contendo substrato dramático, intensidade visual e um realizador que soube compreender o universo do protagonista.