NOITES SUBURBANAS
A proposta não parece, à partida, trazer nada de novo: relatar o quotidiano de um grupo de jovens dos subúrbios entre o fim da adolescência e o início da idade adulta, que enquanto se decidem quanto ao seu futuro vão aceitando empregos em restaurantes de comida rápida ou clubes de vídeo. Esta premissa tanto poderia ser a do livro "Geração X" de Douglas Coupland ou a do filme "Slacker" de Richard Linklater, entre outros exemplos, mas no caso trata-se da de "Analog Days", estreia na realização do norte-americano Mike Ott.
Longe de contar com um ponto de partida especialmente inovador, o filme tem a pequena proeza de contar com uma frescura e genuinidade que nem sempre têm estado presentes em muito cinema indie dos últimos tempos, optando por uma abordagem singular, sensível e complexa de temas recorrentes.
Ott tem a difícil habilidade de definir personagens em poucos minutos, e mesmo que algumas não saiam do estereótipo - o que é compreensível, dado o extenso elenco -, as mais determinantes são figuras tridimensionais com as quais é fácil sentir empatia, ou não fosem as suas dúvidas e problemas tão próximos das de tantos outros. Marcado por uma atmosfera melancólica, mas nunca depressiva ou niilista, "Analog Days" deixa na memória algumas cenas peculiares como uma reveladora conversa à volta da fogueira, provocações numa mesa de café ou uma mais decisiva, sendo repetida e usada como gancho narrativo, em que um amigo cumprimenta outro mas já não o reconhece.
Fulcral para a acção, a óptima banda-sonora inclui canções de muitos nomes recomendáveis - Interpol, Elliot Smith, Joy Division ou Derek Fudesco dos Pretty Girls Make Graves -, mas é "So Here We Are", dos Bloc Party, a que mais brilha, sendo um elemento-chave para que a recta final do filme contenha um sentido de urgência tão belo e envolvente. "Analog Days" pode ter as suas fragilidades, de resto naturais numa primeira obra - o baixo orçamento é evidente num trabalho de realização por vezes amador -, mas sequências de antologia como esta, dominadas por uma fortíssima densidade emocional, permitem compensá-las largamente e tornar o filme numa estreia irresistível, cheia de alma e muito promissora.
Longe de contar com um ponto de partida especialmente inovador, o filme tem a pequena proeza de contar com uma frescura e genuinidade que nem sempre têm estado presentes em muito cinema indie dos últimos tempos, optando por uma abordagem singular, sensível e complexa de temas recorrentes.
Ott tem a difícil habilidade de definir personagens em poucos minutos, e mesmo que algumas não saiam do estereótipo - o que é compreensível, dado o extenso elenco -, as mais determinantes são figuras tridimensionais com as quais é fácil sentir empatia, ou não fosem as suas dúvidas e problemas tão próximos das de tantos outros. Marcado por uma atmosfera melancólica, mas nunca depressiva ou niilista, "Analog Days" deixa na memória algumas cenas peculiares como uma reveladora conversa à volta da fogueira, provocações numa mesa de café ou uma mais decisiva, sendo repetida e usada como gancho narrativo, em que um amigo cumprimenta outro mas já não o reconhece.
Fulcral para a acção, a óptima banda-sonora inclui canções de muitos nomes recomendáveis - Interpol, Elliot Smith, Joy Division ou Derek Fudesco dos Pretty Girls Make Graves -, mas é "So Here We Are", dos Bloc Party, a que mais brilha, sendo um elemento-chave para que a recta final do filme contenha um sentido de urgência tão belo e envolvente. "Analog Days" pode ter as suas fragilidades, de resto naturais numa primeira obra - o baixo orçamento é evidente num trabalho de realização por vezes amador -, mas sequências de antologia como esta, dominadas por uma fortíssima densidade emocional, permitem compensá-las largamente e tornar o filme numa estreia irresistível, cheia de alma e muito promissora.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
"Analog Days" é uma das obras em competição na quarta edição do IndieLisboa e é exibida hoje às 19h no Fórum Lisboa