GRITOS
Dois homens (interpretados por Leigh Whannell e Cary Elwes) acordam numa casa de banho e não têm ideia de como foram lá parar. O facto de estarem aprisionados por correntes já é suficientemente inquietante, mas quando encontram um cadáver no centro da sala o panorama torna-se ainda mais assustador. No momento em que a dupla se apercebe de que está a ser controlada por um serial killer, estão lançadas as bases para uma promissora proposta por domínios do terror, thriller e suspense.
Devido a este ponto de partida, "Saw - Enigma Mortal", tem sido comparado a títulos marcantes como "Sete Pecados Mortais" (Se7en), de David Fincher, ou "O Cubo" (Cube), de Vincenzo Natali. A aura de filme de culto está assim assegurada, mas infelizmente a película de James Wan fica aquém das expectativas. O início é entusiasmante, com consideráveis doses de claustrofobia, mistério e desolação, mas a eficácia dos primeiros minutos nem sempre tem continuidade à altura.
"Saw - Enigma Mortal" peca por ter personagens a mais com desenvolvimento a menos, onde estas não são mais do que peças de um jogo e não possuem grande densidade psicológica. O caso mais gritante é mesmo o do serial killer, estereotipado e com motivações que ficam por esclarecer, afastando-se, por exemplo, do vilão de "Sete Pecados Mortais", este bem mais complexo e nebuloso.
O desenvolvimento do filme revela-se frustrante, uma vez que muitas das reviravoltas, inicialmente surpreendentes, tornam-se banais quando se percebe que, a dada altura, "Saw - Enigma Mortal" recorre a estas de forma exagerada, gerando situações demasiado inverosímeis e inacreditáveis. As cenas finais com a esposa da personagem de Elwes são particularmente forçadas (e já agora, melodramáticas), como aliás todo o último terço do filme, com diversas coincidências demasiado convenientes para o argumento.
Wan consegue gerar um ritmo trepidante e absorvente durante quase todo o filme, com uma competente gestão de flashbacks, mas a fraca direcção de actores, as debilidades do argumento, as fartas (e desnecessárias) doses de gore e o estilo de realização que por vezes roça ambientes de videoclips de bandas nu-metal não contribuem para que o projecto se desenvolva de uma forma especialmente estimulante.
Sobram alguns bons momentos de tensão, uma apelativa fotografia rude e urbana e uma energia visual que conquista a espaços, mas ficam por perceber os motivos que despoletaram tanto burburinho em torno deste "Saw - Enigma Mortal".
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL