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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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20 anos depois de "13"

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Entre a reinvenção e a ameaça de implosão, "13" ficou como a viragem mais extrema da discografia dos BLUR. Passados 20 anos, o sexto álbum dos britânicos ainda é um golpe de rins que o tempo não tratou mal.

 

Se a opção de fazer um álbum como "Blur" (1997) já tinha sido arrojada, ao deixar claro o afastamento da britpop, o disco sucessor, "13" (1999), elevou a ousadia a níveis que nem os fãs mais atentos esperariam.

 

Com a média de idades dos elementos dos BLUR a rondar os 30 anos, o sexto disco foi o que marcou a transição de uma pós-adolescência arrastada para uma fase adulta que chegou sem poupar ninguém. Damon Albarn que o diga, tendo composto o disco após um final de relação de oito anos com Justine Frischmann (vocalista dos Elastica), separação particularmente dolorosa e que assombra estas canções.

 

Blur 1999.jpg

 

Com os restantes músicos também em períodos não muito amenos das suas vidas, o quarteto londrino aproximou-se, mais uma vez, da dissolução, que aqui se supunha inevitável. "Mal funcionávamos enquanto banda, por isso o que quer que tenhamos tirado daquela situação e quaisquer concertos que tenhamos dado foram mesmo um milagre", relembra Damon Albarn no booklet da reedição especial do disco.

 

Apoio fundamental, William Orbit foi o mago (leia-se produtor) de serviço, colaborando com a banda depois de ajudar Madonna a criar o seu melhor álbum ("Ray of Light", de 1998). "13" talvez não seja, de fio a pavio, o melhor dos disco dos Blur, mas é o que o quarteto aponta como o melhor exemplo de colaboração, num desafio capaz de contrariar as muitas tensões internas.

 

"Se tivesse de escolher a minha canção favorita dos Blur, seria a 'Caramel'. Essa e a 'Tender'. Ouvi-a obsessivamente no meu carro, vezes e vezes seguidas. Podes ouvi-la várias vezes de seguida porque começa e acaba da mesma forma. Orgulho-me muito dela. É uma canção adulta e o tipo de coisa que tentávamos fazer há muito mas que nunca tinha funcionado. Aí funcionou a 100%", destacou Dave Rowntree. É difícil não concordarmos com o baterista quando "Caramel" é uma composição assombrosa como poucas: mostra-nos uns Blur mais abstractos e inclassificáveis do que nunca, impondo o ponto alto de um disco assente no improviso e numa busca de liberdade estilística digna de respeito (e com o produtor a tirar partido do emaranhado de texturas e camadas).

 

Blur Coffee & TV.jpg

 

"13" não mantém, ainda assim, esta estranheza durante todo o alinhamento. O arranque com "Tender", com a participação inesperada de um coro gospel, foi suficientemente radiofónico (também vale a pena voltar à remistura de Cornelius, já agora), como o foi ainda "Coffee & TV", outro single e a canção mais caracteristicamente BLUR do disco (cuja popularidade deve muito ao videoclip icónico, protagonizado por um simpático pacote de leite). A mais sujas e despojadas "Swamp Song" e "B.L.U.R.E.M.I" ainda soam a descendentes directos de "Blur", mas "Trailerpark", enigmática, e sobretudo "Trimm Trabb", a culminar numa explosão de guitarras épica, foram das maiores provas de vitalidade do grupo.

 

Além de assinalar uma viragem decisiva dos BLUR, este é ainda o disco sem o qual os Gorillaz não teriam sido possíveis nos moldes em que os conhecemos hoje, admitiria Damon Albarn sobre o projecto paralelo que criou em 1998. E basta ouvir "I Got Law", demo incluída no segundo disco da reedição especial, para tirar as dúvidas: qualquer semelhança com "Tomorrow Comes Today", um dos primeiros singles dos Gorillaz, não será pura coincidência.