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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

20 anos depois, esta luz não se apagou

"LIGHT & MAGIC", o segundo álbum dos LADYTRON, celebra 20 anos e conta com vídeos inéditos para ajudar a fazer a festa. Mas nem precisava deles quando as suas canções ainda têm brilho suficiente.

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Exemplo daquela que foi, de longe, a fase mais prolífica dos LADYTRON, "LIGHT & MAGIC" chegou apenas um ano depois do álbum de estreia dos britânicos, "604", e talvez por isso soe mais a uma evolução na continuidade do que a um disco de ruptura. A maior viragem deste percurso chegaria só no registo seguinte, "Witching Hour" (2005), com o reforço das guitarras a levar a uma aproximação ao rock, ao shoegaze ou à dream pop, à qual se seguiria a vertigem gótica de "Velocifero" (2008).

Se esses dois títulos se impõem como os mais coesos de uma obra sem capítulos dispensáveis, o álbum editado a 17 de Setembro de 2002 não deixou de representar um passo importante na afirmação do quarteto de Liverpool. Ao contrário do anterior, feito em casa, foi gravado em Los Angeles, com Daniel Hunt (o principal compositor do quarteto) a partilhar a produção com Mickey Petralia, que em anos anteriores tinha colaborado com Beck, Eels, Dandy Warhols ou Luscious Jackson.

Mas o som "LIGHT & MAGIC" tem pouco em comum com esses heróis do indie norte-americano dos 90s: tal como "604", resgatou e redefiniu à imagem do grupo uma synth-pop com heranças dos Human League ou Kraftwerk e com parentes próximos em contemporâneos da viragem do milénio como Miss Kittin & The Hacker, Fischerspooner e outros expoentes do electroclash. Os LADYTRON recusaram ser incluídos nessa vaga momentânea e os discos seguintes confirmariam que o rótulo era limitador para os seus horizontes, embora a electrónica minimalista, geométrica e muitas vezes fria deste alinhamento pudesse confundir alguns.

Do arranque certeiro e áspero de "True Mathematics", com Mira Aroyo a cantar em búlgaro, a sua língua materna (e um dos factores distintivos da música da banda), à despedida orelhuda de "The Reason Why", na voz mais doce de Helen Marnie, "LIGHT & MAGIC" propõe uma viagem com tanto de retro como de aventureiro, confirmando o grupo como um dos discípulos mais confiáveis da pop electrónica da sua geração.

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"Seventeen", cruzamento de humor seco e provocador ("They only want you when you're seventeen/ When you're 21, you're no fun") com um ritmo dançável e infeccioso, será o grande clássico do disco, mas vale a pena (re)descobrir pérolas esquecidas como "Flicking Your Switch", igualmente pulsante; a soturna "Cracked LCD", de alma new wave; ou "Evil", uma das maiores sintonias entre luz e magia.

15 faixas talvez sejam demasiadas, excesso condizente com o alinhamento do álbum antecessor mas que seria controlado nos seguintes. E apesar de a recta final ser menos vitaminada, continua aqui mais de uma hora de música que sobreviveu muito bem à passagem do tempo: talvez porque, embora editado em 2002, "LIGHT & MAGIC" tenha tanto de 1982 como de 2022.

À reedição comemorativa juntam-se três vídeos inéditos: um olhar sobre os bastidores da criação do álbum e os videoclips de "Light & Magic" e "True Mathematics"