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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

UNS DIAS DE RAIVA

Sobre este "Dias de Santiago", a primeira longa-metragem do peruano Josué Méndez, algumas vozes evocavam traços do incontornável "Taxi Driver", de Martin Scorcese, pelo tipo de atmosferas e pelo protagonista numa situação-limite, incapaz de lidar com um mundo em combustão.

De facto, à semelhança do que ocorre com "O Assassínio de Richard Nixon", de Niels Mueller, os fantasmas dessa influente obra passam por aqui, neste retrato desencantado das experiências de um ex-soldado que regressa a casa após anos de combate e se depara com uma realidade pouco auspiciosa.

Santiago Roman observa e analisa os seus amigos, familiares e outros habitantes de Lima, mas não encontra nada de motivador ou esperançoso nestas figuras, recolhendo-se então numa esfera de melancolia, amargura e um carregado nervosismo à beira da explosão, sentimentos que se intensificam num quotidiano vincado pela falta de perspectivas. Um outcast incompreendido pelos que o rodeiam, o protagonista opta, aos poucos, por adoptar uma atitude mais proactiva, de forma a responder a uma sociedade decadente e infrutífera.

Josué Mendez aborda a inquietação da sua personagem principal de forma eficaz, apostando numa realização de tons crus e realistas, contando com uma fotografia de tonalidades apropriadamente rudes e ásperas. Contudo, o recurso a algumas imagens a preto-e-branco em diversos momentos torna-se cansativo, e o ritmo do filme é demasiado irregular, assim como o argumento, que não dispensa uma série de cenas redundantes.

Pietro Sibille foi uma escolha adequada para protagonizar o filme, expondo as doses necessárias de revolta, inocência e genuinidade, embora os restantes elementos do elenco não possuam interpretações especialmente memoráveis, raramente ultrapassando a mera competência.

"Dias de Santiago"
é uma estreia interessante, mas que fica aquém das suas potencialidades, dado que a sua abordagem não fornece nada de novo nem de muito imaginativo. Um filme curioso, ainda assim, mas prejudicado por momentos bastante frágeis, como o desenlace que segue os moldes de um histérico e pouco convincente drama “de faca e alguidar”.

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

A RECTA FINAL

Já com mais de uma semana e com mais de dez mil espectadores, a segunda edição do IndieLisboa aproxima-se agora do seu final. O nono dia do festival não apresentou filmes inéditos mas constituiu uma oportunidade para (re)ver algumas das obras em exibição.

Em destaque estiveram «Le Conseguenze dell’ Amore», de Paolo Sorrentino; «The Forest for the Trees», de Maren Ade; «Le Pont des Arts», de Eugène Green; ou «Dias de Santiago», de Josué Mendez; entre outros (ver críticas). O soberbo Director’s Cut de «The Big Red One», de Samuel Fuller, um dos maiores destaques desta segunda edição, foi também reexibido, assim como o inclassificável «Tropical Malady», de Apichatpong Weerasethakul, uma das maiores bizarrias que por lá passou.

Entretanto, estão quase a ser revelados os filmes mais votados pelo público e pelo júri, e aguarda-se com expectativa «My Summer of Love», de Pawel Pawlikowski, a película da sessão de encerramento que será exibida hoje à noite e que já se encontra esgotada há vários dias (e para a qual não consegui bilhete...).

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