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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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QUANDO O CÉU DESCEU À TERRA

Na sua segunda actuação a solo em Portugal (a primeira foi no Festival do Sudoeste do ano passado), a britânica Lou Rhodes cativou o público presente ontem na Aula Magna, em Lisboa, com a apresentação do seu disco de estreia em nome próprio, "Beloved One".

A ex-vocalista dos Lamb não conta agora com as surpreendentes programações rítmicas de Andy Barlow, substituindo o experimentalismo electrónico de drum n' bass e trip-hop por serenas atmosferas acústicas próximas de uma folk agridoce, entre o primaveril e o outonal, mas a empatia com o auditório não deixou de se evidenciar.

De resto, esse registo marcado pela simplicidade notou-se logo quando a cantora entrou em palco, envergando um vestido branco bem distinto dos trajes mais irreverentes que caracterizavam a sua imagem nos Lamb.
Bem acompanhada por cinco elementos em palco, Lou Rhodes proporcionou uma tranquila e acolhedora hora e meia onde revelou uma envolvente faceta de storyteller, comunicando naturalmente com os espectadores e contando-lhes episódios curiosos do quotidiano, chegando a brincar com o facto do público aplaudir antes das canções terminarem.

Foi, de resto, esse misto de disponibilidade, simpatia e modéstia que fez deste um espectáculo convincente, compensando a mediania e banalidade de algumas composições, a milhas da criatividade dos melhores momentos da carreira dos Lamb.
Contudo, se a nível da escrita o cardápio musical foi irregular, a voz da cantora continua excepcionalmente cristalina e expressiva, e não foram poucos os episódios dominados por uma intensa carga emocional.
Em "No Re Run", "Beloved One", "Why" ou no inédito "All We Are", os resultados desta união foram particularmente ricos, despoletando um encantatório ambiente bucólico com uma vocalista em estado de graça. Menos absorventes foram "Tremble" ou "To Survive", entre outras canções monótonas e pouco inspiradas que desequilibraram o alinhamento.

Apesar da maioria dos temas terem sido bem recebidos pelo público que ocupava a relativamente concorrida, mas longe de esgotada Aula Magna, nos encores é que surgiram focos de maior agitação.
Do primeiro constaram o belo e angelical "Bloom" e o popular "Gabriel", o single mais mediático dos Lamb que os espectadores acompanharam de pé e com palmas. Dispensava-se, no entanto, esta escolha, não só por ser previsível mas sobretudo porque a banda possui na sua discografia canções bem mais estimulantes. É o caso da que encerrou o concerto, "Lullaby", do magnífico "Fear of Fours", apresentada com roupagens acústicas, que suscitou um dos picos emocionais da noite, lembrando o fulgor e vibração de outros tempos.

Antes de Rhodes actuou o islandês Oddur Runarsson, ex-guitarrista dos Lamb cujo disco de estreia será lançado pela editora da cantora, a Infinite Bloom. Praticante de uma pop intimista e acessível, manteve uma postura simpática e iniciou a noite de forma competente, mas sem rasgos nem sinais particulares.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

Lamb - "All in Your Hands (Live)"

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