Claude Chabrol tem evidenciado, nos seus últimos filmes, poucos traços da ousadia que o distinguiu enquanto nome-chave da Nouvelle Vague, incidindo quase sempre nos mesmos temas e ambientes com maior ("A Dama de Honor") ou menor ("No Coração da Mentira") eficácia.
"A Comédia do Poder" (L`Ivresse du Pouvoir) é mais uma película que vem confirmar essa tendência, pouco ou nada acrescentando à filmografia do cineasta mas contendo, ainda assim, algum interesse.
O filme é um olhar sobre os meandros da política, do mundo empresarial e dos laços ilícitos que se geram entre estas esferas, sendo aqui investigados por uma austera, impiedosa e dedicada juíza cuja determinação em denunciar um caso de corrupção acaba por perturbar a sua frágil vida privada.
Misto de thriller e drama conjugal embalado por uma fina camada de humor negro, "A Comédia do Poder" é um título que emana inteligência e competência, mas que raramente consegue elevar-se acima da média. Os diálogos astutos e subtis e as não menos sólidas interpretações (em particular a de Isabelle Huppert) são trunfos valiosos, no entanto a realização algo indistinta e, sobretudo, o argumento irregular não permitem que o filme forme um todo consistente.
Suficientemente envolvente quando se dedica às situações da rotina familiar da protagonista, tanto à falta de comunicação desta com o marido como à intrigante relação que mantém com o sobrinho (sendo esta a que fornece as melhores cenas), "A Comédia do Poder" é uma obra menos conseguida quando se limita a proporcionar mais uma estafada perspectiva sobre um inquérito judicial que apenas leva a um já visto e revisto conflito de poderes e interesses, abordado de uma forma tão plausível quanto previsível.
Longe do desastre, é certo, mas ficando também muito aquém do brilhantismo, o filme é um objecto curioso que peca por não funcionar plenamente enquanto entretenimento nem como fonte de reflexão. A ver, mas com reservas.