No passado sábado, o festival Lisboa Soundz, na sua segunda edição, voltou ao Terrapleno de Santos e trouxe a palco, a partir do início da tarde, uma oferta musical ecléctica cujo auge consistiu no concerto dos Strokes, a portentosa estreia da banda nova-iorquina em Portugal.
Por volta das 17 horas, coube aos portugueses You Should Go Ahead iniciar o ciclo de actuações do dia, apresentando ao ainda escasso público presente alguns dos temas do seu primeiro disco, de título homónimo. Tal como muitas das novas bandas de hoje, recolhem influências do pós-punk e, embora se assemelhem por vezes em demasia a uns The Futureheads ou We Are Scientists (um dos nomes inicialmente anunciados para o festival e cujo single "Nobody Move, Nobody Get Hurt" rodou incessantemente nos intervalos dos concertos), contam já com algumas boas canções, de que foram exemplo "Like When I Was Seventeen" ou "Wake Up Song".
Pena o deslize do vocalista no final, que terminou de forma infeliz um concerto competente ao reagir, com alguma teimosia, ao facto de parte do público se manter distante do palco, apesar dos seus apelos.
Distanciando-se das guitarras dos YSGA, Howe Gelb & The Gospel Choir trouxeram ao recinto sonoridades entre o blues, o alternative country e o gospel, em histórias da América profunda sob a forma de canção partilhadas pelo vocalista, a maioria temas seu recente álbum, "'Sno Angel Like You".
Com uma atitude afável e descontraída, Gelb obteve uma prestação carismática, e apesar do calor que se fazia sentir concentrou a atenção de uma considerável faixa de espectadores. Um nome a considerar para futuros espectáculos, de preferência num espaço mais intimista.
Não tão conseguida foi a presença de
Isobel Campbell (pontualmente acompanhada por Eugene Kelly), cujas canções de "Ballad of the Broken Seas" tiveram pouco impacto perante um público que reagiu quase sempre com indiferença.
Contrariamente aos
Belle and Sebastian, cujo concerto da semana passada no Coliseu de Lisboa foi marcado pela constante interacção com os os espectadores, a postura da sua ex-vocalista foi tão discreta e apaziguada que a sua
indie pop(zinha) de travo
folk passou quase despercebida, assinalando um compasso de espera que não custou a passar mas que também não trouxe nada de muito estimulante.
Ainda menos interessante foi o concerto seguinte, uma vez que os brasileiros Los Hermanos, ainda que tenham evitado o inenarrável "Anna Júlia", não foram capazes de dar vida a um conjunto de canções banais e indistintas. O seu rock vitaminado mas desinspirado conquistou a adesão de alguns, contudo ficou como um dos momentos mais fracos do festival.
Com a chegada da noite, chegaram também os She Wants Revenge, na apresentação do seu disco de estreia homónimo. O projecto divide opiniões, sendo encarado por uns como mero copista da linguagem de uns Joy Division e demais bandas new-wave, mas é também defendido por outros, que aqui encontram uma envolvente receita aglutinadora de referências, devidamente recontextualizadas num conjunto de canções que exprimem o presente.
Tendo em conta a receptividade do público, a maioria dos espectadores enquadrava-se no segundo grupo, e o concerto foi o que registou, até então, uma maior concentração em torno do palco. Mesmo com alguns exageros no volume do som e da redundância das composições da banda, elevou-se acima do balanço morno dos espectáculos anteriores, oferecendo um dançável rock soturno e urbano que, longe de revolucionário, registou suficientes bons momentos.
Já os Dirty Pretty Things trouxeram a insipidez de volta ao palco, numa prestação acelerada e directa que não disfarçou a ausência de canções dignas de nota, tirando a eventual excepção do single 'Bang Bang You're Dead'.
O grupo, nascido das cinzas dos Libertines, é mais um dos protegidos de grande parte da imprensa britânica mas que, tal como outros habitualmente incensados, não contém méritos que justifiquem tal distinção, revelando-se cansativo e previsível.