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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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REBELDES SEM CAUSA

Cineasta veterano e nem sempre consensual, Philippe Garrel regressa em 2006 com um filme que se arrisca, tanto pela temática como pela abordagem, a situá-lo num espaço tão pessoal quanto hermético.
Crónica do quotidiano de um grupo de jovens durante e após o Maio de 68, “Os Amantes Regulares” (Les Amants Réguliers) apresenta uma visão pessoal, com traços autobiográficos, de um período controverso da história francesa recente, mas se a película parte de um tema com potencial os resultados são no mínimo desequilibrados e ficam aquém das expectativas.

Desnecessariamente longo e repetitivo, arrastando-se por cansativas três horas pontuadas por várias cenas de relevância discutível, o filme evidencia a espaços que Garrel tem boas ideias mas a estruturação destas corre o risco de desinteressar até o espectador mais paciente.

O tom quase documental com que são focados os actos de revolta dos estudantes nas ruas começa por ser intrigante, propondo um realismo cru e palpável, sugerindo tensão e sentido de urgência. Contudo, estes primeiros momentos do filme tornam-se incipientes quando prolongados até à exaustão, impossibilitando qualquer carga dramática devido a uma monótona e aleatória sucessão de atritos e perseguições.

Já na ressaca dos conflitos do Maio de 68, a segunda parte de “Os Amantes Regulares” segue a convivência de parte dos jovens revolucionários na mansão de um deles, dando particular ênfase à relação que nasce entre um poeta, François, e uma escultora, Lilie. Oscilando entre a utopia e o cepticismo, o relacionamento do jovem casal espelha o clima de ambivalência e hesitação que se disseminou após uma revolta que descoordenou ideais e motivações.
Nas cenas entre os dois amantes, Garrel consegue implementar pontuais momentos de intimismo e densidade emocional, ausentes no filme até então, mas ainda assim os protagonistas surgem quase sempre como figuras distantes e demasiado indecifráveis, e em última instância pouco envolventes.

Relato de um panorama onde o activismo é mais demonstrado do que sentido, “Os Amantes Regulares” acaba por fornecer uma perspectiva dos jovens rebeldes não muito diferente da de “Os Sonhadores”, mas onde o filme de Bertolucci oferecia uma vibrante e sedutora experiência cinematográfica, o de Garrel raramente vai além de uma pouco absorvente mediania.

A película tem os seus méritos, já que Louis Garrel, filho do realizador e, curiosamente, um dos protagonistas de “Os Sonhadores”, obtém aqui uma interpretação correcta na pele de François, assim como Clotilde Hesme como Lilie. A belíssima e intensa fotografia a preto-e-branco de William Lubtchanski concede às imagens uma singular energia, e alguns diálogos são inspirados e oportunos, mas mesmo estes elementos convincentes não compensam o ritmo letárgico nem a palha narrativa que “Os Amantes Regulares” vai acumulando, deixando-o como um rascunho do que poderia ter sido.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL