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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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A TRADIÇÃO AINDA É O QUE ERA

Terceira parte da Trilogia dos Elementos - os anteriores foram "Fogo" (1996) e "Terra" (1998) -, "Água" (Water) é um dos raros exemplos do cinema indiano que chega a salas nacionais e a mais recente obra de uma das suas novas e mais controversas cineastas, Deepa Mehta.

Ao ver o filme, percebe-se o motivo pelo qual a realizadora é pouco consensual na Índia, uma vez que "Água" contém uma forte denúncia das condições a que as viúvas são expostas, sendo obrigadas a uma vida de recolhimento em lares.
Nesses locais que as segregam, são impedidas de disfrutar do contacto com qualquer tipo de prazer, usando sempre o mesmo traje e mantendo uma postura lacónica e discreta. Ainda que estejam proibidas de voltar a casar, muitas acabam por ter de se dedicar à prostituição, uma das poucas formas de conseguir sustentar os asilos.

Mehta, contudo, não torna o seu filme num mero grito de revolta tendencioso e manipulador, destinado a despertar e chocar consciências, pois embora esteja presente uma tentativa de revelar situações precárias e pouco expostas da sua terra natal, este retrato surge inserido numa narrativa que permite ao espectador formular os seus próprios juízos e conclusões.

A acção decorre na Índia de finais dos anos 30 e segue o percurso de Chuyia, uma menina de oito anos que, apesar de não ter conhecido o marido, é viúva, e por isso levada para uma casa habitada por outras, que passa a ser também a sua.
Aí é educada a seguir um estilo de vida oposto ao que conheceu até então, cujas diferenças começam quando o seu cabelo é rapado e continuam através de contínuas restrições que não dominavam o seu quotidiano.
A cumplicidade com Kalyani, a mais bela das suas colegas de casa, ajuda-a a superar os primeiros dias, mas a situação torna-se mais conturbada para ambas quando esta decide deixar a prostituição para casar com um jovem advogado, ambição naturalmente dificultada pelas restantes viúvas.

Drama de considerável sensibilidade e envolvência, "Água" é uma sóbria experiência cinematográfica, equilibrada em todos os aspectos, com destaque para o impressionante trabalho de fotografia de Giles Nuttgens (capaz de cenas de rara energia visual, como as da festa da cor) e para a direcção de actores, de onde sobressai Sarala, carismática e comovente no papel da pequena Chuyia.

Inicialmente algo leve e espirituosa, a película torna-se triste e amargurada à medida que a jovem protagonista é obrigada a crescer mais rapidamente do que deveria, sendo por isso os últimos minutos especialmente claustrofóbicos e marcados por algumas sequências arrepiantes.

O desenlace poderá ser de gosto duvidoso para alguns, o filme talvez tenha uns vinte minutos a mais e Mehta é geralmente mais consistente do que genial, mas de qualquer forma "Água" é uma obra bastante meritória e cativante, que não merece passar despercebida entre os títulos estreados em 2006.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

ESTREIA DA SEMANA: "A SENHORA DA ÁGUA"

Depois do belíssimo (e por muitos incompreendido) "A Vila", M. Night Shyamalan está de volta com "A Senhora da Água" (Lady in the Water), filme que tem despoletado reacções ainda mais extremas do que o seu antecessor.
Paul Giamatti e Bryce Dallas Howard protagonizam esta fábula moderna que se inicia quando uma ninfa é encontrada numa piscina de um complexo de apartamentos, e caberá aos moradores do mesmo ajudá-la a regressar ao seu mundo.
Resta saber se este mote dá origem a um filme auto-indulgente, como muitos o caracterizam, ou a uma obra memorável, à semelhança de algumas já criadas pelo realizador. A confirmar a partir de hoje.
Outras estreias:

"Armadilha em Alto Mar", de Hans Horn, a sequela de "Open Water - Em Águas Profundas"
"Nunca Tantos Fizeram Tão Pouco", de Kevin Smith
"Ondas Invisiveis", de Pen-Ek Ratanaruang
"Serpentes a Bordo", de David R. Ellis

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