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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

D.A.N.C.E. E NOISE À FRANCESA

E de repente, após revolucionar o universo da música de dança em meados dos anos 90, França volta a fazer uma forte investida no mapa sonoro actual através de lançamentos de vários novos nomes, a fazer lembrar a entrada em cena de referências agora respeitadas como, entre tantos outros, Alex Gopher, Saint Germain, Air ou Daft Punk.
A influência destes últimos é particularmente evidente em muitos dos novos projectos em ascensão, em especial nos da editora Ed Banger, liderada por Pedro Winter (AKA Busy P), curiosamente – ou nem tanto – o manager da emblemática dupla que lançou portentos como “Around the World” ou “One More Time”.

Xavier de Rosnay e Gaspard Auge, o duo que responde pelo nome Justice, não esconde a determinante herança Daft Punk no seu disco de estreia, “Cross”, pegando na sua amálgama house, funk e noise e triturando-a ao longo de um álbum que abraça outros géneros de forma mais ou menos óbvia, com destaque para o estranho híbrido entre uma reforçada carga disco e flirts de reminiscências metal (mais pela carga austera e crua das canções e na peculiar iconografia do projecto do que pelas sonoridades em si).



Justice - "D.A.N.C.E. (MSTRKRFT Remix)"

Apoiado numa produção tão minuciosa quanto rugosa, dado o estratégico emergir de distorções por entre eficazes batidas, “Cross” apresenta uma série de faixas intrigantes e sombrias, ainda que incitem sempre à pulsão dos corpos e estejam prontas a dinamitar uma pista de dança de gosto ecléctico.
A blogosfera ajudou a espalhar o culto em torno do duo e, no meio da recepção crítica de que o álbum tem sido alvo, há quem o proclame como o “Homework” desta década, epíteto exagerado para uma estreia que, tendo os seus méritos, não terá menos limitações. É verdade que os Justice arrancam aqui alguns bons temas alicerçados numa consistente mescla de referências, que a sua sonoridade que primeiro se estranha e depois se entranha traz alguma frescura ao universo da música de dança, estabelecendo interessantes aproximações a uma linguagem rock, contudo se parte das faixas até resultam bem individualmente torna-se cansativo ouvir o disco na íntegra.

A maioria das canções de “Cross” são instrumentais que assentam quase sempre nos mesmos modelos, apostando em estruturas que geram curiosidade nos momentos iniciais, como “Genesis” ou “Let There Be Light”, mas que em “Waters of Nazareth” ou “One Minute to Midnight” têm já um desagradável sabor a mais do mesmo, afogando-se numa redundância de ruídos que cedo passam de empolgantes a fastidiosos.

Por vezes emergem variações entusiasmantes, como no apropriadamente intitulado “Stress”, onde se sai do clima de festa ensurdecedora para cair no meio de um sufocante filme de suspense, ou em “Phantom” e ”Phantom pt. II”, episódios com uma receita disco noise mais apurada.
É pena que a inspiração destes momentos não se mantenha nas canções que recorrem a vozes, caso de “Ththhee Ppaarrttyy”, uma pouco arriscada colaboração com a colega de editora Uffie, da igualmente inconsequente “DVNO” ou do single “D.A.N.C.E.”, canção que destoa no álbum dada a considerável carga poppy, e mesmo tendo a graça de soar a uns Jackson Five da era digital esgota-se ao fim de quatro ou cinco audições (a menos que devidamente acompanhada do respectivo videoclip, bem mais apelativo).

Sendo uma estreia promissora, “Cross” é demasiado desequilibrado para colocar os Justice como os novos heróis do french touch, até porque o catálogo da Ed Banger Records inclui discos mais recomendáveis – como “Lucky Boy”, de DJ Mehdi – e as mesmas coordenadas já foram revistas de forma superior em “Destroy Rock & Roll”, de Mylo, com maior diversidade e carga lúdica. Mesmo assim, quando acerta a dupla revela um savoir faire que sugere que daqui poderão ainda surgir resultados à altura do hype, pelo que convém continuar a segui-la nos próximos tempos - mas sem histerias precipitadas.

E O VEREDICTO É:
2,5/5 - RAZOÁVEL

MARGEM SUL PÓUA!

A doninha não falha... Mais uma vez, os Da Weasel provaram que são uma das melhores bandas nacionais ao vivo, no concerto desta sexta das festas de Corroios. Além de um lote de boas canções, têm a seu favor a capacidade de saberem como passar a festa do palco para o público, dominando-o como poucos - o que não é tarefa fácil, sobretudo neste caso onde havia "pretos, brancos, amarelos e azuis", como referiu PacMan, e um considerável cruzamento de gerações.
E manter a coerência estética ao longo de vários discos num país onde o entretenimento mainstream nacional está, cada vez mais, infestado com floribellas e morangos, é um esforço que merece ser aplaudido. Ainda não ouvi o álbum mais recente - nem foi aqui que fiquei a conhecer muito, já que o alinhamento incidiu mais no anterior "Re-Definições" - mas dispensava o single "Dialectos de Ternura", embora este tenha sido um mal menor de uma actuação inspirada. O tema do vídeo abaixo, outro single de "Amor, Escárnio e Maldizer", foi um dos momentos fortes:




Da Weasel - "Mundos Mudos"

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