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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

FUTURISMO OLD SCHOOL

Antes de se tornar numa dos nomes fortes da Ed Banger - editora que congrega alguns dos artistas mais emblemáticos da nova electrónica francesa -, DJ Mehdi, ou Mehdi Faveris-Essadi, tinha já um currículo musical respeitável que incluía a participação em bandas de hip-hop como Ideal J e 113, colaborações com MC Solaar, Cassius ou Daft Punk ou composições para as bandas-sonoras de “Mulher Fatal”, de Brian DePalma, ou “Reis e Rainha”, de Arnaud Desplechin.

“The Story of Espion”, o seu álbum de estreia editado em 2002, garantiu-lhe alguns elogios, que foram agora reforçados com o seu segundo disco em nome próprio, “Lucky Boy”, um claro passo em frente onde exibe maior eclectismo e segurança.

Ao contrário da maioria dos seus colegas de editora, como o duo Justice, que recontextualizam referências do french touch de 90 e investem numa nova abordagem entre a house e o rock, DJ Mehdi apresenta temas menos crus e explosivos, centrando-se numa simbiose de hip-hop old school, funk e electro vincada por uma forte carga cinemática e heranças da década de 80.

“Lucky Boy” resulta num interessante conjunto de ambientes, geralmente através de canções instrumentais não muito dinâmicas, de onde sobressai a eficácia de Mehdi como produtor e algum talento na composição, ainda que nunca registe um nível inventivo muito acima da média. Mais agradável do que desafiante, o disco é um curioso caleidoscópio que se empenha na revisitação de estilos e não tanto na projecção de novas ideias, o que não chega a ser um problema já que consegue ser quase sempre absorvente.

Há por aqui vários momentos contagiantes, seja a colaboração com a dupla Chromeo em “I Am Somebody”, um single certeiro e orelhudo, o brevíssimo concentrado de energia de “Signatune”, a sucessão de riffs de guitarra de “Boggin” (um dos poucos que se aproxima da matriz dos colegas da Ed Banger) ou a hipnótica e enigmática faixa-título, que assentaria bem num thriller urbano e elegante.
“Pony Rocking” e “Leave It Alone” ancoram-se num hip-hop sintético com vozes regadas a hélio, “Always Be an Angel” viaja por atmosferas árabes e “Love Bombing” vai desenhando um lento crescendo de intensidade, mantendo-se na fronteira entre o sereno e o inquietante.

Pontualmente há temas menos consistentes, como “Wee Bounce”, cuja percussão repetitiva e imutável acaba por cansar, mas na maior parte dos casos DJ Mehdi convence e faz com que “Lucky Boy” seja um disco capaz de resistir a muitas audições, com potencial para se tornar numa das bandas-sonoras para o quotidiano de muitos.
 

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM



 


DJ Mehdi feat. Chromeo - "I Am Somebody"

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