A tabela relativa a algumas das estreias de Novembro, mais uma vez organizada pelo Knoxville. O realizador do mês foi Robert Zemeckis, do qual não sou grande apreciador mas que ainda assim fez alguns filmes que me marcaram - "Quem Tramou Roger Rabbit?" é daqueles de que gostei aos 7 (ou perto disso) e julgo que continuarei a gostar aos 77.
Antes de se tornar numa dos nomes fortes da Ed Banger - editora que congrega alguns dos artistas mais emblemáticos da nova electrónica francesa -, DJ Mehdi, ou Mehdi Faveris-Essadi, tinha já um currículo musical respeitável que incluía a participação em bandas de hip-hop como Ideal J e 113, colaborações com MC Solaar, Cassius ou Daft Punk ou composições para as bandas-sonoras de “Mulher Fatal”, de Brian DePalma, ou “Reis e Rainha”, de Arnaud Desplechin.
“The Story of Espion”, o seu álbum de estreia editado em 2002, garantiu-lhe alguns elogios, que foram agora reforçados com o seu segundo disco em nome próprio, “Lucky Boy”, um claro passo em frente onde exibe maior eclectismo e segurança.
Ao contrário da maioria dos seus colegas de editora, como o duo Justice, que recontextualizam referências do french touch de 90 e investem numa nova abordagem entre a house e o rock, DJ Mehdi apresenta temas menos crus e explosivos, centrando-se numa simbiose de hip-hop old school, funk e electro vincada por uma forte carga cinemática e heranças da década de 80.
“Lucky Boy” resulta num interessante conjunto de ambientes, geralmente através de canções instrumentais não muito dinâmicas, de onde sobressai a eficácia de Mehdi como produtor e algum talento na composição, ainda que nunca registe um nível inventivo muito acima da média. Mais agradável do que desafiante, o disco é um curioso caleidoscópio que se empenha na revisitação de estilos e não tanto na projecção de novas ideias, o que não chega a ser um problema já que consegue ser quase sempre absorvente.
Há por aqui vários momentos contagiantes, seja a colaboração com a dupla Chromeo em “I Am Somebody”, um single certeiro e orelhudo, o brevíssimo concentrado de energia de “Signatune”, a sucessão de riffs de guitarra de “Boggin” (um dos poucos que se aproxima da matriz dos colegas da Ed Banger) ou a hipnótica e enigmática faixa-título, que assentaria bem num thriller urbano e elegante.
“Pony Rocking” e “Leave It Alone” ancoram-se num hip-hop sintético com vozes regadas a hélio, “Always Be an Angel” viaja por atmosferas árabes e “Love Bombing” vai desenhando um lento crescendo de intensidade, mantendo-se na fronteira entre o sereno e o inquietante.
Pontualmente há temas menos consistentes, como “Wee Bounce”, cuja percussão repetitiva e imutável acaba por cansar, mas na maior parte dos casos DJ Mehdi convence e faz com que “Lucky Boy” seja um disco capaz de resistir a muitas audições, com potencial para se tornar numa das bandas-sonoras para o quotidiano de muitos.