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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

O meu tio

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"A OUTRA MARGEM", o novo filme de Luís Filipe Rocha, gera desde logo alguma curiosidade por contar com uma dupla protagonista pouco habitual: um tio e um sobrinho onde o primeiro é um travesti e o segundo um adolescente com Síndrome de Down. O resultado, contudo, é menos atípico ou mesmo irreverente do que esta junção poderia sugerir, originando um drama sóbrio e contido que se debruça nas contrariedades das relações humanas, tanto familiares como amorosas, e sobretudo na forma como a diferença as influencia.

Ricardo, que faz espectáculos musicais como travesti num bar lisboeta, entra em desespero após o suicídio do namorado, mas depois de uma visita da sua irmã, que não via há anos, decide regressar com ela à sua terra natal, uma localidade no interior, local onde deixou um pai desiludido e uma noiva frustrada. É aí que conhece outro familiar, o seu sobrinho Tomás, um jovem com trissomia 21 que aos poucos o vai contagiando com a sua espontaneidade e optimismo. E as conversas que partilham acabam por os encorajar a encetar novas fases nas suas vidas.

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Luís Filipe Rocha apresenta aqui um filme corajoso, honesto e sensível, características que compensam algumas limitações. Uma dos maiores é o facto dos primeiros 15/20 minutos não serem especialmente envolventes, presos a cenas com planos demasiado longos e contemplativos que impõem um arranque desnecessariamente moroso.
Felizmente, o desenvolvimento da narrativa torna-se mais interessante à medida que as personagens se vão dando a conhecer, e mesmo com um ritmo irregular este drama acaba por ir conquistando através de um argumento consistente e um rigor formal assinalável.

Tal como em outras obras do cineasta, "A OUTRA MARGEM" demonstra apuro tanto na realização como na direcção de actores, tendo esta última sido distinguida no Festival de Montreal, onde Filipe Duarte e Tomás Almeida foram ambos galardoados. Percebe-se porquê, já que a dupla oferece aqui interpretações sentidas. Duarte é especialmente notável, compondo uma personagem que facilmente poderia cair na caricatura mas que aqui surge num retrato tridimensional - das expressões faciais à linguagem corporal, o actor sofre uma metamorfose impressionante face ao que já demonstrou em qualquer outro papel.

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Maria D'Aires e Sara Graça convencem na pele das duas personagens femininas e a fotografia de Edgar Moura potencia alguns planos marcantes - as paisagens de Amarante, onde grande parte da acção foi filmada, também ajudam -, complementando o olhar de Rocha. Igualmente curiosa é a banda-sonora criada pelos Corvos, ainda que a sua quase omnipresença possa ser cansativa a espaços.

Pena que os conflitos entre as personagens não sejam tão explorados como se desejaria, impondo um desenlace que deixa várias pontas soltas. Situações como a do reencontro do protagonista com o pai - claramente simbólica, a explicar o título do filme - perdem força por não terem seguimento, não aproveitando ao máximo as possibilidades da premissa. Aliadas aos problemas iniciais da narrativa, fazem de "A OUTRA MARGEM" uma obra desequilibrada, embora não a impeçam de se destacar como um dos bons títulos do final de 2007 e, principalmente, como um dos escassos filmes portugueses dos últimos tempos que vale a pena descobrir.

3/5
 

VER E OUVIR (2)

Colaborou com os The The, Dee-Lite ou Curtis Mayfield, editou dois álbuns a solo e mais recentemente juntou-se aos Soul Investigators, com quem gravou o disco "Keep Reachin' Up". São estes últimos que acompanham Nicole Willis hoje, no Casino de Lisboa, para um concerto de entrada livre que deverá começar pelas 22h30. Espera-se uma noite de soul e funk clássicos, que terão continuidade no DJ set de Keb Darge.

Como aperitivo para o espectáculo deixo a colaboração da cantora com os Leftfield num dos poucos grandes momentos de "Rythm & Stealth", o último álbum do duo britânico:




Leftfield - "Swords"

VER E OUVIR

Com o final do ano a aproximar-se, o Posto de Escuta já escolheu as 10 capas de discos de 2007 que melhor ficam no Cover Flow do iTunes. Apesar de gostar da maioria das escolhas do Pedro, as minhas duas capas preferidas - para ver no iTunes ou não - pertencem ao mesmo álbum:


As capas são enganadoras, já que "A Weekend in the City" não é um disco tão conseguido, ainda que os Bloc Party já o tenham compensado com um dos melhores concertos do ano - no Coliseu de Lisboa, em Maio - e com uma nova canção, "Flux", que primeiro se estranha mas depois se entranha e aponta novas (e interessantes) direcções para o grupo.


Para ver e ouvir aqui em baixo, mas melhor do que o single é uma versão mais longa, que pode ser ouvida e descarregada aqui, juntamente com o óptimo instrumental do mesmo tema e a também recomendável remistura de Burial para "Where is Home?".



Bloc Party - "Flux"