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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Onde está a verdade?

Steve Buscemi é sobretudo conhecido pelo seu percurso como actor, tendo uma hábil gestão de carreira que o faz oscilar entre projectos independentes e mainstream, mas paralelamente à sua faceta interpretativa tem desenvolvido outras como as de argumentista e realizador.

 

Em "Entrevista" (Interview) acumula as três, naquela que é a quarta longa-metragem dirigida por si, apresentando aqui um remake do filme homónimo do holandês Theo van Gogh. A obra seria quase um one-man show caso não contasse com uma actriz que tem um considerável protagonismo ao longo da acção, Sienna Miller, à partida uma escolha pouco óbvia para um filme de Buscemi.

 

 

Aqui, contudo, a sua presença faz todo o sentido, já que o enredo se centra na entrevista de um veterano jornalista de política (Buscemi) e uma mediática actriz (Miller) que se popularizou mais pelos seus romances do que pelo percurso artístico - que consiste em pouco mais do que papéis em telenovelas e filmes de série-b.

 

Essa entrevista, que dá título ao filme, quase acaba por não ocorrer, já que o encontro entre a dupla não arranca da melhor forma - o jornalista não só se revela pouco conhecedor do currículo da entrevistada como não tem interesse em saber mais, demonstrando uma frieza recebida com estupefacção, primeiro, e indignação, depois, pela actriz.

Apesar da fricção inicial, as circunstâncias levam a que ambos se conheçam mutuamente não no jantar que estava programado mas ao longo de um serão em casa dela, vincado por uma sucessão de manipulações, cedências e revelações, temperadas com algum humor e tensão psicológica, em que os protagonistas tentam desmascarar-se mutuamente.

 

 

Buscemi oferece aqui uma obra discreta em meios - tirando os primeiros minutos, foca apenas com duas personagens que conversam num apartamento - mas com um programa ambicioso, que se atira a um debate sobre o papel do jornalismo e as suas relações com o showbiz, debruçando-se sobre as fronteiras entre a informação e o entretenimento onde cada elemento do par protagonista adere claramente a um dos lados da barricada.

 

É uma premissa interessante que tem uma execução satisfatória durante a maior parte do tempo, já que os diálogos são geralmente inspirados, e credíveis e nota-se química entre os actores, elemento imprescindível para que "Entrevista" seja uma obra que se siga com curiosidade.

 

Se um bom desempenho de Buscemi não é propriamente surpreendente, uma vez que o actor raramente se afasta disso, o mesmo já não poderá dizer-se de Sienna Miller, que até agora ainda não havia apresentado nenhum papel em que se confirmasse como uma actriz especialmente convincente.

 

 

Aqui consegue-o, entregando-se a uma personagem que se adivinha levemente auto-paródica (já que os seus percursos são comparáveis), não se refugiando no entanto numa série de tiques mas apostando numa composição com alguma intensidade.

 

Buscemi já se havia revelado um sólido director de actores - "Lonesome Jim" (2005), por exemplo, demonstrou o grande actor que Casey Affleck podia ser antes do reconhecimento global de "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" e "Vista Pela Última Vez..." - e aqui apresenta uma obra onde as interpretações são o maior trunfo de um filme que, a espaços, escorrega em algumas hesitações de tom (como nas despropositadas sequências de sedução) e não conta com um trabalho de realização particularmente inventivo (ainda que Buscemi consiga imprimir uma apropriada atmosfera que entrecruza intimismo e tensão).

 

 

Desenvolvendo-se quase sempre em tempo real, com uma conseguida (e difícil) espontaneidade que faz lembrar o díptico "Antes do Amanhecer"/"Antes do Anoitecer", de Richard Linklater (embora se centre em situações bem distintas), "Entrevista" só falha mesmo no desenlace. Deitando abaixo a apreciável inteligência das cenas anteriores, cede à lógica do twist final que aqui mais não é do que um mecanismo dispensável e forçado, mais próximo do fogo de vista de um tablóide do que de um exemplo de jornalismo sério e consequente.

 

Mas mesmo terminando de forma decepcionante, este é ainda um pequeno filme com personalidade e ideias suficientes para merecer ser descoberto, e um bom motivo para continuar a seguir o percurso de Buscemi à frente e atrás das câmaras.

 

 

Aqui há gato (e, espera-se, um grande disco)

 

aqui tinha dito que "Velocifero", o quarto álbum dos britânicos Ladytron com edição prevista para Junho, é O disco mais aguardado de 2008 por estes lados.

 

Agora a expectativa torna-se ainda maior já que "Black Cat", a primeira nova canção divulgada no site da banda, vem comprovar que a vertente mais negra e atmosférica do antecessor - e excelente - "Witching Hour" (2005) tem continuidade à altura.

Sintetizadores envolventes, batida viciante, distorção q.b. e, por fim, a voz de Mira Aroyo - que dá vontade de ter aulas de búlgaro - dão origem a uma canção que mostra os Ladytron em grande forma.

 

O download pode ser feito gratuitamente aqui e, naturalmente, recomenda-se.

Enquanto o álbum não chega, deixo aqui o videoclip da adorável - e já longínqua - "Discotraxx", do registo de estreia do grupo, "604" (2001). E fico a fazer figas para que a apresentação do disco passe por palcos nacionais.

 

 

Ladytron - "Discotraxx"

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