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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Amor e uma guitarra

Entrou em palco sozinha com uma guitarra, e ao longo do concerto assim se manteve, tendo apenas a colaboração de um baterista em algumas canções. E só isso foi mais do que suficiente para que Emma Louise Niblett, mais conhecida por Scout Niblett, tenha conquistado o público da La Maroquinerie, em Paris, no passado sábado, através da sua folk minimalista e intensa.

 

“This Fool Can Die Now”, o seu quinto e mais recente álbum, editado em 2007, foi o mote para uma noite que revisitou também temas de registos anteriores, que deixaram evidente porque é que muitos a incluem entre as cantautoras mais surpreendentes desta década.

Desde o disco de estreia, “Sweet Heart Fever” (2001), Niblett tem conseguido superar as comparações a nomes como PJ Harvey (da fase inicial) ou Cat Power, que até fazem sentido mas poderão ser redutoras quando a sua obra já ganhou um espaço próprio.

 

 

 

“Do You Want To Be Buried With My People”, a primeira canção do novo álbum, abriu também o espectáculo, e logo comprovou que a voz da cantora britânica é ainda mais vibrante ao vivo do que em disco, e ao longo de hora e meia foi usada de forma impressionante tanto em sussuros enigmáticos e e arrepiantes como em gritos viscerais, catalisadores de raiva, entrega ou angústia.

 

Incialmente circunspecta, Niblett foi tecendo depois alguns breves comentários, agradecendo os aplausos com que o público a acolheu ao final de cada tema. “Alguma pergunta?” terá sido a frase que mais disse, acompanhada por um sorriso discreto, ainda que só um espectador lhe tenha feito uma, ao perguntar se tocaria alguma canção dos Nirvana.

“Não, mas tocava muitas há uns anos”, respondeu, e não será difícil acreditar, tendo em conta que tanto a banda de Kurt Cobain como os Sonic Youth terão tido influência nas suas composições mais agrestes, como o sugeriram as soberbas descargas de guitarra de “Let Thine Heart Be Warned” ou “Hide and Seek”.

 

 

 

Tanto estas como as da bateria foram as únicas que acompanharam a sua voz, e nem foi preciso mais, gerando grandes momentos de indie rock lo-fi em temas como “Nevada”, árida canção de amor.

Apesar de contar com a colaboração de um (excelente) baterista, a cantora dispensou-o em “Your Beat Kicks Back Like Death”, onde trocou as cordas pela percussão no episódio com a melodia mais poppy mas que, contudo, foi dos que contou com letras mais negras, olhando a morte de frente.

Não se mostrou uma baterista tão segura como o seu colega de palco, embora essa ousadia de tocar e cantar e simultâneo tenha despoletado um dos picos de intensidade da actuação.

 

Nem todas as canções se mostraram tão carismáticas, ainda que o concerto nunca tenha deixado de ser envolvente, sobretudo pela ansidedade e força da voz de Niblett. Espera-se que o mesmo estado de graça se mantenha no concerto de hoje na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, e talvez aí os que consideram Cat Power a diva indie percebam que são capazes de estar equivocados.

 

 

 

Próximo do equívoco esteve também a primeira parte, a cargo dos Beach House, que apresentaram o seu segundo álbum, o recente “Devotion”. A dupla norte-americana actuou acompanhada por um baterista e, se por vezes criou atmosferas intrigantes, no geral tornou-se cada vez mais indiferente à medida que as canções se sucederam.

 

A sua dream pop melancólica com traços de psicadelismo resultou pouco sedutora tanto pela redundância das composições como pela voz da vocalista Victoria Legrand, uma não muito convincente mimetização de Nico (o que falha duplamente quando a original já é sobrevalorizada como poucas).

A sua postura estática, quase anestesiada, também não ajudou, acentuando o tédio que só se dissolveu em alguns momentos instrumentais, sobretudo aqueles em que os teclados se impuseram.

Infelizmente, esses foram escassos e nunca conseguiram fazer com que o concerto ultrapassasse a mediania. Parte do público aderiu, mas as reacções acabariam por confirmar que o melhor veio depois.

 

Beach House

Scout Niblett

 

 

Scout Niblett - "Nevada"

 

Estreia da semana (passada): "A Rapariga Cortada em Dois"

 

 

Como esta é uma semana de poucas e pouco convidativas estreias, mais vale destacar um filme que chegou às salas na anterior. "A Rapariga Cortada em Dois" (La Fille Coupée en Deux) é o mais recente filme de Claude Chabrol, que apesar de ter ganho o prémio da crítica em Veneza não parece ser das obras mais consensuais do realizador francês.

À semelhança, de resto, dos seus últimos trabalhos, desde o mediano "A Comédia do Poder" ao mais interessante "A Dama de Honor".

 

A acção centra-se numa jovem que recorre à sedução para chegar ao sucesso, mas pelo caminho fica dividida entre um homem mais velho, um escritor reputado, e um da sua idade, um milionário imberbe.

O tom, como habitual, está entre drama, o thriller e a comédia negra, e mesmo que o filme possa não ser memorável há coisas bem piores para fazer do que olhar para Ludivine Sagnier ou Benoît Magimel, ainda por cima com o reforço da fotografia de Eduardo Serra.

 

De qualquer forma, as estreias da semana são estas:

 

"O Coração da Terra", de Antonio Cuadri

"Um Belo Par... de Patins", de Nicholas Stoller

 

 

Trailer de "A Rapariga Cortada em Dois"

 

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