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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Quem é Claudette?

Entre outras coisas, é a protagonista do documentário que tem o seu nome, uma das obras exibidas na mais recente edição do Queer Lisboa.

 

Foi aí que falei com ela e com a realizadora Sylvie Cachin, cujo filme tem uma proposta no mínimo invulgar ao centrar-se numa prostituta hermafrodita sexagenária. Ambas explicam tudo no vídeo abaixo:

 

 

Entrevista a Claudette e Sylvie Cachin

 

Treze histórias de uma queda criativa

Um dos poucos pontos fortes de "...Earth to the Dandy Warhols...", o sexto álbum dos Dandy Warhols, é o de ser melhor do que anterior, o desapontante "Odditorium or Warlords of Mars".

O que, infelizmente, não é um grande elogio, já que seria difícil não sair a ganhar na comparação com disco tão desinspirado, que desiludiu muitos dos que seguiam com atenção o percurso da (outrora?) interessante banda de Portland.

 

Entre os insatisfeitos com esse registo incluiu-se a Capitol Records, cuja reacção às baixas vendas do álbum terá encorajado os Dandy Warhols a criarem a sua própria editora, Beat the World, através da qual lançam agora o novo álbum.

 

 

A maior liberdade criativa ajudará a explicar os resultados do novo trabalho, vincado por uma paleta sonora tão dispersa como a do disco anterior e onde o grupo nem sequer parece esforçar-se na criação de temas tão radiofónicos como aqueles pelos quais se notabilizarou - e numa carreira de mais de dez anos não faltam singles fortes como "Not if You Were the Last Junkie on Earth", "Get Off", "Every Day Should Be a Holiday" ou o inevitável "Bohemian Like You", que o catapultou para 15 minutos de fama que já parecem ter-se esgotado.

 

O quarteto não estará muito interessado em recuperá-los, tendo em conta que "...Earth to the Dandy Warhols..." é dos seus registos menos imediatos, o que não seria um problema caso o álbum compensasse, pelo menos, os ouvintes mais insistentes com canções que precisassem de tempo para serem descobertas e apreciadas.

 

 

Mas não, tal como em "Odditorium or Warlords of Mars" o que se encontra aqui é um experimentalismo quase sempre inconsequente, onde mais do que nunca os Dandy Warhols preferem ser um pastiche de terceiros - Velvet Underground, David Bowie, Rolling Stones -, em vez de desenvolverem uma personalidade que em tempos foi promissora.

 

A tentativa de alternância entre géneros de um tema para o outro sai comprometida por uma produção demasiado densa, que afoga a voz de Courtney Taylor-Taylor num caldeirão instrumental e torna difícil compreender o que se canta, ainda que também nas letras a banda já se tenham revelado mais certeira. "The World the People Together (Come On)" abre o disco com um psicadelismo redundante, voz em falsete e palmas que marcam um ritmo pouco envolvente.

 

 

De cadência mais funk, "Welcome to the Third World" também acaba por se revelar cansativa, enquanto que "Wasp in the Lotus" e "And Then I Dreamt Of Yes" são passagens pelo shoegaze, a primeira mais abrasiva e a segunda contemplativa, que sendo competentes não têm o mistério que a banda já gerou em registos anteriores.

 

Ainda assim, são francamente preferíveis a um esboço como "Valerie Yum", cujo final é dos mais inaudíveis da obra do grupo, ou à última faixa, "Musee D'Nougat", quinze minutos atmosféricos onde Taylor-Taylor balbucia com um sotaque francês e apresenta um caso grave de auto-indulgência.

Mais conseguida, "Love Song" tem a colaboração de Mike Campbell (Tom Petty & the Heartbreakers) e de Mark Knopfler (Dire Straits), e se o resultado não surpreende muito é pelo menos simpático na sua simples aproximação à country.

 

 

"Now You Love Me" comprova que os Dandy Warhols funcionam melhor quando a sensibilidade pop se sobrepõe à pose arty, sendo um dos poucos momentos com perfil de (bom) single, o que também pode aplicar-se ao descomprometido "Mis Amigos", elogio à amizade com tempero mariachi que ainda permite depositar alguma esperança na banda.

As marcas da poeira do oeste americano manifestam-se ainda em "The Legend of the Last of the Outlaw Truckers aka the Ballad of Sherif Shor", com Taylor-Taylor a cantar num tom mais grave entre disparos e originando outro episódio recomendável.

 

Se não estivessem perdidas num alinhamento demasiado longo e desequilibrado, estas canções poderiam ser sólidos alicerces do bom disco em que "...Earth to the Dandy Warhols..." ameaça tornar-se a espaços, mas ainda não é aqui que os Dandy Warhols recuperam a consistência evidente em álbuns como "Thirteen Tales from Urban Bohemia" ou "The Dandy Warhols Come Down".

O facto deste ser um passo em frente em relação ao antecessor deixa, contudo, alguma vontade de acreditar que já estiveram mais longe disso.

 

 

 

The Dandy Warhols - "Mission Control"

 

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