Rebelde com causa
"Clandestinos" é o primeiro filme do espanhol Antonio Hens, cujo currículo inclui a realização de curtas-metragens ou alguns episódios de séries televisivas. Esta sua considerável experiência atrás das câmaras, durante mais de dez anos, ajudará a explicar a solidez presente na sua longa-metragem de estreia, que contudo se tornou mais conhecida pela polémica que despertou no seu país-natal.
Tendo em conta que o terrorismo ou a homossexualidade são duas questões centrais da acção, não surpreende que surjam reacções mais inflamadas, ainda que Hens opte aqui por uma abordagem inteligente aos temas que foca, nunca tentando fazer de "Clandestinos" um exibicionista filme-choque.
A narrativa arranca com a fuga de três adolescentes de um reformatório - um basco, um mexicano e um marroquino - e deixa claro que nem todos ficam mais tranquilos com a liberdade recém-adquirida.
Xabi, o protagonista, aproveita esta oportunidade para tentar encontrar Iñaki, um veterano da ETA que foi seu mentor poucos anos antes e com quem manteve uma relação ambígua. Mas agora este prefere continuar a mais recente missão com a sua esposa, que consiste num atentado em Madrid, e Xabi tenta impressioná-lo com uma explosão no centro da capital espanhola.
Desenhando uma teia de tensão e fanatismo em torno dos planos do protagonista e compensando esse negrume com oportunos episódios de humor - servidos pelos seus amigos e delirantes namoradas -, "Clandestinos" consegue um bom equilíbrio entre thriller, drama e comédia.
A história de Xavi é credível ao sugerir que a solidão e tentativa de afirmação podem encorajar o fascínio por atitudes extremas, embora se arrisque a gerar reacções díspares com um desenlace onde a solução para esta espiral descendente pode vir de onde menos se espera - e está longe de ser a mais politicamente correcta.
A realização de Hens, não tendo golpes de génio, é eficaz na consolidação de um efeito realista, e todos os actores estão à vontade na pele das suas personagens, com especial destaque para o principal, um intrigante e circunspecto Israel Rodríguez. Chega e sobra para tornar "Clandestinos" em mais um exemplo do diversificado e surpreendente novo cinema espanhol.
"Clandestinos" integra a programação do Queer Lisboa 12 e é reexibido hoje às 15h30 na Sala 1 do cinema São Jorge