Folk intimista com vitaminas pop
Se há discos que, mesmo não trazendo nada de novo, acabam por convencer, a estreia dos Noah and the Whale será um deles.
Movendo-se entre a folk e a indie pop, o quarteto britânico dificilmente se candidata às mais memoráveis referências desses géneros mas apresenta um belo conjunto de canções em "Peaceful, The World Lays Me Down".
O nome do projecto inspira-se no título do filme "A Lula e a Baleia", comédia dramática independente realizada por Noah Baumbach em 2005, e ao escutar o álbum percebe-se que a música do grupo poderia ter feito parte dessa banda-sonora - ou, por exemplo, das de obras de Wes Anderson, produtor do filme.
Em comum têm uma atmosfera outonal onde a melancolia convive com um discreto sentido de humor, elementos usados pelos Noah and the Whale para inspirados retratos de relações amorosas.
O alinhamento do disco contempla canções geralmente simples e de forte apelo melódico, com refrões trauteáveis mas cuja carga imediata não é incompatível com densidade emocional.
As letras sabem como trazer alguma frescura à estafada temática boy-meets-girl e a combinação das vozes de Charlie Fink e Laura Marling (que não sendo da banda participa na maioria dos temas) reforça a intensidade das composições.
A consistência manifesta-se também numa saudável diversidade instrumental, uma vez que os temas tanto recorrem ao piano como ao trompete, passando pelo violino, guitarra acústica ou trombone.
Esta amálgama nunca resulta num exercício pomposo e exibicionista, antes serve canções aconchegantes de onde emana um apreciável intimismo.
Além de elegantes, os arranjos são por vezes imaginativos, caso do compasso rítmico de "Second Lover", semelhante à cadência dos segundos dos ponteiros de um relógio ou à de batimentos cardíacos, e que faz todo o sentido tendo em conta a história que a canção partilha (onde o tempo parece ser um empecilho do amor).
Mais esperançosa, "5 Years Time" narra um dia ideal (embora apenas imaginário) e cujo optimismo solarengo é reforçado por palminhas, assobios e o acréscimo da flauta à fusão intrumental.
Se os Noah and the Whale andam à procura da canção pop perfeita, têm aqui uma óptima aproximação, capaz de deixar um sorriso de orelha a orelha mesmo nos mais cépticos.
Outros momentos recomendáveis incluem o devaneio mexicano de "Shape of My Heart" ou o final épico de "Give a Little Love", que sugere que o grupo escutou várias vezes "Funeral", dos Arcade Fire (nada contra).
Por temas como estes, até se desculpa a voz algo monocórdica de Fink ou duas ou três canções menos apelativas, felizmente guardadas para o final desta boa estreia de uma banda a acompanhar.
Noah and the Whale - "5 Years Time"