Conta com um realizador interessante, um actor principal carismático, sucede uma trilogia consistente e chega finalmente às salas esta semana.
"X-Men Origens: Wolverine", como o título indica, revela parte do passado da popular personagem dos X-Men - que muitos conheceram através de Hugh Jackman -, e como chamariz para os fãs inclui alguns dos mutantes mais requisitados para o grande ecrã (casos de Gambit ou Deadpool).
E como até agora o franchise tem sido rentável, estão já prometidos outros regressos ao passado de personagens da saga, como Magneto ou a equipa original dos X-Men, que sugerem que a aliança da Marvel com o cinema está para durar.
Mas se agora o filme de Gavin Hood (realizador que assinou os estimáveis "Tsotsi" e "Detenção Secreta") mantiver a qualidade assegurada na trilogia de Bryan Singer e Brett Ratner, valerá a pena aguardar com alguma expectativa as próximas apostas da Marvel, pelo menos no que à família X diz respeito.
Durante a primeira meia-hora "Breathless" (Ddjongpari) é mais cansativo do que estimulante, concentrando-se quase exclusivamente em cenas de violência encetadas pelo seu protagonista, elemento de um gangue sul-coreano que é o terror dos caloteiros do seu patrão (e melhor amigo).
Mas estas sequências introdutórias, demasiado repetitivas, acabam por fazer sentido tendo em conta o que o filme oferece depois, e ao final de mais de duas horas em nada comprometem a sensação deixada por Yang Ik-Juke: a de que esta é uma brutal (literalmente) e brilhante estreia na realização.
O realizador sul-coreano acumula ainda as funções de produtor, argumentista e actor principal, e consegue equilibrar todas estas vertentes numa obra que ao início parece feita de estereótipos embora vá, subtilmente, contornando os rumos que se esperariam num arranque algo atabalhoado.
Como as cenas iniciais sugerem esta é uma história de violência, sim, mas serve-se desta para desenvolver uma inspirada teia narrativa que visita os abismos emocionais do protagonista – sobretudo através da oportuna presença de flashbacks – sem descurar as personagens com os quais este se cruza, todas igualmente ambíguas e atormentadas.
A violência, sobretudo doméstica, marca inevitavelmente as vidas que a acção segue, e Ik-Juke filma-a com uma crueza que faz de "Breathless" um filme a acompanhar sempre com o coração nas mãos, tanto por esses vários momentos de uma agressividade asfixiante como por alguns episódios comoventes em que as personagens partilham a sua vulnerabilidade com o espectador (cujo pico de intensidade será uma cena ao luar entre o protagonista e a sua amiga, uma destemida estudante do liceu).
A realização, quase sempre com câmara à mão e predilecção por grandes planos, acentua a tensão da narrativa, mas felizmente a acção é temperada com algum humor, que se revela vital para compensar muitas situações de um nervosismo claustrofóbico.
"Breathless" é especialmente surpreendente no desfecho, já que há duas ou três cenas que aparentam ser as finais embora também aí Ik-Juke troque as voltas ao espectador.
E quando o filme finalmente termina, com a violência das primeiras sequências a ecoar nas últimas, deixa mais evidente o que já tinha demonstrado: que é mesmo uma primeira obra angustiante e envolvente como poucas, capaz de cortar a respiração em várias cenas de antologia.
"Breathless"integra a sexta edição do IndieLisboa e é reexibido amanhá às 15h45 no Cinema Londres