Arnaud Desplechin tem um novo filme prestes a estrear, o muito elogiado "Um Conto de Natal" (a 21 de Maio), mas antes a sua obra anterior é revisitada quase na íntegra no Instituto Franco-Português.
Tendo em conta que muitos dos seus filmes são inéditos em salas nacionais, esta é uma boa oportunidade para (re)descobrir o percurso de um dos nomes mais fortes do novo cinema francês (autor, entre outros, do interessante "Reis e Rainha").
O ciclo começou ontem, dura até dia 20 e a entrada é gratuita. Programação, sinopses e horários aqui.
No início da década foram para muitos uma das revelações mais entusiasmantes da pop electrónica, mérito de uma estreia promissora - "Melody AM" (2001) - que contudo convencia mais pelos singles do que enquanto álbum.
E como muitas vezes ocorre com nomes cujo primeiro registo dá que falar, no segundo - "The Understanding" (2005) - as reacções foram menos consensuais, muito por culpa de um alinhamento indeciso entre europop orelhuda e exercícios mais negros e abstractos.
O recente "Junior" vem agora comprovar que, em alguns casos, à terceira é mesmo de vez, ou não fosse este o álbum mais equilibrado dos Röyksopp.
Os noruegueses Torbjørn Brundtland e Svein Berge voltam a gerar um disco ecléctico e acessível, com maior fluidez do que o antecessor e, ao contrário da estreia, os momentos de destaque não se resumem aos óbvios candidatos a singles.
A produção é impecável como sempre, muitas vezes direccionada para as pistas embora suficientemente minuciosa para ser apreciada noutros contextos, mas o maior trunfo são mesmo as vozes convidadas, grande parte da nata da pop nórdica.
Robyn protagoniza o momento superlativo do álbum, "The Girl and the Robot", single gigantesco que conjuga habilmente electrónica pujante, coros infecciosos e um certeiro desenlace sinfónico.
Karin Dreijer (dos Knife e Fever Ray), com quem o duo já tinha colaborado na arrepiante "What Else is There", chega lá perto com os outros dois temas mais pulsantes e nervosos do disco, "This Must Be It" e sobretudo "Tricky Tricky", que sugerem que os Röyksopp deviam dedicar-se mais à confecção de atmosferas negras e dançáveis e deixar de lado as contemplativas.
Não é que se saiam mal nos episódios mais tranquilos, mas a dream pop de "Miss It So Much", cantada por Lykke Li com a candura habitual, está longe de impressionar tanto, e o mesmo pode dizer-se do instrumental "True to Life", agradável embora talvez mais apropriado para um lado-b.
Algures entre estas duas vertentes, as participações de Anneli Drecker (vocalista dos Bel Canto), presença regular nos discos dos Röyksopp, mostram os caminhos que os Goldfrapp poderiam ter seguido caso não desistissem da electrónica em "Seventh Tree".
E se em "True to Life" não são os mais interessantes, acabam por seduzir nos rodopios envolventes de "Vision One" e na melancolia sintética e onírica de "You Don't Have a Clue".
No instrumental "Röyksopp Forever" a dupla conjuga cordas e batida e o resultado é um curioso exercício épico de adesão imediata, a contrastar com o ambiente descomprometido e optimista de "Happy Up Here", a sua canção mais lúdica desde "Eple", do disco de estreia.
Mas são os tons densos que acabam por fechar o álbum, em "It's What I Want", a remeter para a electropop nebulosa de uns Beloved e a deixar uma considerável expectativa em relação ao próximo disco dos Röyksopp.
E nem vai ser preciso esperar muito, porque até já tem título - "Senior" - e está prometido para o segundo semestre deste ano.
Röyksopp feat. Robyn - "The Girl and the Robot (Live)"