Banda-sonora para uma tarde de Sol no campo
"July Flame", o título do novo álbum de Laura Veirs, refere-se a uma espécie de pêssego que pode encontrar-se nos campos de Portland, perto da nova casa da cantora - que anteriormente residia em Seattle.
Mas mais do que no título, esta mudança de residência reflecte-se em toda a atmosfera de um álbum deliciosamente campestre com sabor a Verão.
Os seus seis discos anteriores já eram frequentemente marcados por ambientes bucólicos - além de cantora e compositora, Veirs é geóloga e passou parte da infância no interior dos EUA - e em "July Flame" dominam as pequenas histórias que se contam da primeira à última destas treze canções.
Sem grandes cortes com o passado - onde se afirmou como uma das mais cativantes revelações indie/folk/alternative country da última década -, Laura Veirs volta a apostar na simplicidade que costuma comandar as suas composições.
Embora o disco conte com uma impressionante diversidade instrumental - cordas, teclados, sopros ou sintetizadores -, as canções nunca escorregam para cenários pomposos ou opulentos, deixando espaço para que a voz consiga respirar e brilhar.
Com pouco mais de três minutos (às vezes nem tanto), os temas remetem para um imaginário de dias solarengos e quase sempre serenos, em especial momentos como "Silo Song" ou "Summer is the Champion" (onde Veirs entoa frases como "Let's get dizzy in the grass" com uma candura assinalável).
Mas "July Flame" é por vezes menos luminoso, como o atesta a dolência de "Sleeper in the Valley", elegia sensível a um soldado que se uniu demasiado cedo à natureza. A melancolia está também no centro dos três pontos altos do disco.
"Little Deschutes" arranca como uma frágil balada ao piano, tornando-se depois numa pequena valsa com o acompanhamento inesperado da guitarra eléctrica e do violoncelo. E quando Veirs canta "All I want to do is to float with you", remetendo para uma idílica tarde num rio, é difícil não encontrar aqui uma das suas canções mais encantadoras.
Em "Make Something Good" o piano volta a ser dominante e conjuga-se muito bem com as vozes de Veirs e de Jim James (vocalista dos My Morning Jacket, que canta em vários temas do disco), num final perfeito para o álbum.
Também a roçar a perfeição, a faixa-título reforça o apelo melódico com um coro que não compromete o despojamento da canção, resultando num dos melhores singles da cantora.
Se há defeito a apontar a um disco como "July Flame" é o de nem sempre ter canções tão memoráveis como estas. Mas é um defeito que rapidamente se torna num pormenor tendo em conta que, mesmo não sendo imprescindíveis, a maioria dos seus temas são sempre muito bonitos.
Laura Veirs - "July Flame"