O fantasma
Não falta mística a "Coming Out". A sua estreia decorreu na noite da queda do muro de Berlim, foi o primeiro (e único) filme da Alemanha Oriental centrado na homossexualidade e acabou premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim em 1990.
Mas visto hoje, mais de duas décadas depois, este drama de Heiner Carow distingue-se mais como curiosidade histórica do que enquanto abordagem especialmente inspirada da temática.
É claro que, tendo em conta o contexto em que nasceu, é um filme corajoso, embora esse arrojo também o leve a funcionar, por vezes, como uma bandeira a favor da tolerância e integração - a mensagem é louvável, já a forma como é passada nem por isso, revelando-se ocasionalmente ingénua e genérica.
Alicerçado no colapso emocional de um jovem professor, cada vez mais incapaz de manter uma relação com uma colega à medida que vai aceitando a sua orientação sexual, "Coming Out" consegue, mesmo assim, dar alguma intensidade a uma premissa genérica.
O elenco, em particular o actor principal, ajuda a conferir credibilidade às situações, e a realização despojada acentua o realismo dos ambientes (até porque todos os espaços nocturnos eram de facto reais e frequentados por grande parte dos secundários e figurantes do filme).
E se a narrativa cai por vezes na modorra, também serve algumas cenas fortes que ajudam a fazer desta uma obra meritória (como as do protagonista no quarto ou o monólogo de um idoso, com ecos do Holocausto), ainda que os seus maiores méritos não sejam os cinematográficos.
"Coming Out" integrou a programação da 7ª edição da KINO - Mostra de cinema de expressão alemã de Lisboa