Hoje já não assusta ninguém, mas em meados da década de 90 Marilyn Manson ainda terá povoado os pesadelos de alguns. Ou pelo menos a sua imagem - que parecia prolongar a noite de Halloween durante o ano inteiro - chegou para chocar as comadres.
Por vezes, o seu universo visual com tanto de críptico como de crítico surgiu ao lado de boas canções. "Antichrist Superstar" (1996) e sobretudo "Mechanical Animals" (1998) foram exemplos disso, embora haja momentos fora desses discos que também merecem ser recordados. Como "Apple of Sodom", que integrou a banda-sonora de "Lost Highway" (1997), de David Lynch - onde constavam também canções dos Nine Inch Nails, Trent Reznor, Smashing Pumpkins, Rammstein ou David Bowie. Aqui fica o videoclip, com a tal imagem que marcou uma época:
Esta não é mais uma história boy meets girl. O segundo filme da argentina Julia Solomonoff revela-se bem mais complexo e, aos poucos, até acaba por ir desconstruindo essa premissa.
É também um filme onde pouco parece passar-se, ambientado nas férias de Verão de uma pré-adolescente no campo, mas do qual não convém contar muito porque poderá ser demasiado.
De "O Último Verão da Boyita" fica um belo e sincero retrato do crescimento e da amizade - capaz de dar tempo às personagens e de apresentar crianças que, ao contrário de tantos outros filmes e séries televisivas, não são alvo de um olhar condescendente e simplista. A sensibilidade de Solomonoff merece por isso aplausos, sobretudo na direcção de actores.
Guadalope Alonso e Nicolás Treise, nos papéis dos protagonistas Jorgelina e Mario, respectivamente, são uma inegável mais-valia - com uma naturalidade na linha de muito cinema argentino recente mas que não deixa de impressionar (onde é que os vão buscar?).
Premiado na mais recente edição do Queer Lisboa, há poucas semanas, com os galardões de Melhor Filme e Melhor Actriz, "O Último Verão da Boyita" tem agora honras de estreia nacional (com uma rapidez algo surpreendente, diga-se). E faz todo o sentido que assim seja, já que o seu apelo universal não merece ficar circunscrito a um nicho.