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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Amor, estúpido e louco

 

Para muitos, Gaël Morel será lembrado, sobretudo, por ter sido um dos protagonistas de "Os Juncos Silvestres" (1994), provavelmente o filme mais popular - e louvado - de André Téchiné. Mas se aí se estreou como actor, é atras das câmaras que mais se tem notabilizado. Prova disso é "O Nosso Paraíso", que apesar de ser já o seu quinto filme é dos poucos (o único?) que chegou ao circuito comercial português. E espera-se que não seja o último, pelo menos se o nível médio da filmografia do realizador francês não se afastar muito do que vemos aqui.

 

A ligação de Morel a André Téchiné não se ficou, aliás, só por "Os Juncos Silvestres". Por um lado, porque "O Nosso Paraíso" conta com outro actor que protagonizou esse filme, Stéphane Rideau. Por outro, porque estes ambientes não andam muito longe dos de "Não Dou Beijos" (1991), de Téchiné, que também se centrava num prostituto. Aqui, Morel segue dois: um mais velho, interpretado por Rideau (com uma óptima presença, esquiva e magnética), e um mais novo, papel bem agarrado pelo estreante Dimitri Durdaine (a metade aparentemente mais vulnerável e espontânea do casal). Da relação fortuita mas intensa entre ambos nasce uma obra que, entre heranças do film noir e um romantismo cego, vai desenrolado um novelo atormentado de sexo, morte e obsessão.

 

Posto isto, que temos? Um filme-choque escabroso? Nada disso: Morel não só impõe um notável rigor estético, recusando mergulhos no grotesco que por vezes se insinuam (a sequência do último assassinato será dos melhores exemplos) como, e mais importante, sabe tornar os protagonistas em figuras ambíguas, e por vezes inegavelmente cruéis, sem precisar de dissecar as suas motivações ao espectador. Este não será, é certo, dos pares românticos mais adoráveis que veremos este ano, mas o filme também nunca nos pede que gostemos dele nem tenta sequer redimi-lo. Será, sim - e tem sido - uma dor de cabeça para quem só espera representações "positivas" de personagens homossexuais, como se estas não pudessem ser tão falíveis - e alienadas ou criminosas - como as outras... É também por isso, por ter o politicamente correcto entre as suas muitas vítimas, que "O Nosso Paraíso" é dos filmes mais corajosos e inflexíveis em cartaz.

 

 

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