Apenas dez anos depois do início da trilogia de Sam Raimi, era mesmo necessário regressar à origem do Homem-Aranha? Nem por isso - ou não, de todo -, sobretudo quando o primeiro filme dessa saga já a tinha contado tão bem. O problema é que o alter ego de Peter Parker é, muito provavelmente, a personagem mais popular da Marvel e o filão dos super-heróis ainda parece ir funcionando no grande ecrã (monetariamente, pelo menos), motivos que terão levado a que "O Fantástico Homem-Aranha" propusesse um recomeço.
Admita-se, no entanto, que para um filme desnecessário o resultado poderia ter sido bem pior. Marc Webb, que assina aqui a sua segunda longa-metragem depois do simpático "(500) Days of Summer", dá um tom mais leve e juvenil à saga sem a tornar oca ou infantilizada: ao contrário de outras adaptações dos comics, a essência da personagem mantém-se e o Homem-Aranha continua a ser protagonista de um blockbuster com coração.
Andrew Garfield ajuda bastante, confirmando-se como uma escolha certeira para um Peter Parker mais novo (aqui ainda nos tempos do liceu, como no arranque da BD) e um Homem-Aranha mais espevitado e tagarela (no capítulo do número de piadas por cena de pancadaria, o filme até sai a ganhar aos de Raimi). Quando tira a máscara, faz faísca com Emma Stone, uma Gwen Stacy com mais atitude do que a Mary Jane de Kirsten Dunst, e nem algumas opções discutíveis (como o skate sempre debaixo do braço) lhe retiram o lado nerd do Peter Parker que conhecemos.
Se a narrativa conta com ligeiras variações, a nível técnico o filme não tem o efeito surpresa dos da saga anterior, mas não é por isso que as sequências em que o Homem-Aranha saltita entre os prédios de Nova Iorque deixam de impressionar. Felizmente, essas ideias visuais, além de inspiradas q.b., nunca se sobrepõem ao principal: uma mistura convidativa de drama, comédia, romance e acção, ingredientes geridos de forma escorreita por Webb e defendidos por um actor que faz, apesar da relutância inicial, dar o voto de confiança ao desenrolar desta nova teia.
Meados de Julho é tempo de ir a banhos, mas também - porque não? - de fazer o balanço do que o ano nos deu até agora em filmes e discos, passados quase sete meses.
Com muitas falhas por colmatar - até finais de Dezembro, espera-se -, aqui fica uma lista de dez filmes estreados por cá, vinte discos (dez portugueses e dez estrangeiros) e dez canções que estão entre o melhor que se espreitou e escutou - opinião pessoal e transmissível, e por isso igualmente refutável, lá está. Seja como for, o top 40, até agora, é este:
"Words and Music by Saint Etienne", o novo álbum dos Saint Etienne, é uma carta de amor à música popular e tem em "I've Got Your Music" um dos momentos que melhor o expressam.
Neste novo single dos britânicos, Sarah Cracknell garante-nos que não vai a lado nenhum sem levar os phones atrás, chama Tim Powell (ex-Xenomania) ou Richard X para a composição e produção e dá voz a uma das canções mais dançáveis do disco - a lembrar Kylie Minogue num dia inspirado.
O videoclip reflecte a paixão evidente na letra e reúne imagens de fãs do grupo acompanhados dos seus álbuns favoritos, numa boa ilustração do conceito (e de um dos grandes singles deste Verão):