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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Natasha e os outros

 

Entre uma eventual selecção das melhores capas de discos de 2012 dificilmente poderá faltar a de "The Haunted Man", o terceiro álbum de Bat for Lashes. Confesso que até aderi mais à capa do que ao disco, que não me pareceu manter o mesmo mistério e surpresa e soa, por isso, ao menos essencial de Natasha Khan até agora.

 

Mas o facto de poder estar uns furos abaixo dos antecessores não impede que ainda esteja bem acima de muito do que se ouviu este ano, o que o leva a ser um dos títulos em destaque na lista de melhores discos internacionais do SAPO Música, para a qual contribuo. Além dessa, o balanço inclui os melhores discos nacionais e uma lista alternativa, com as escolhas de músicos portugueses que regressaram (ou que se estrearam) em 2012. Fica a sugestão enquanto uma lista mais completa e pessoal (é tempo delas, nada a fazer) não surge aqui no blog para fechar a temporada...

 

Os invisíveis (também) precisam de amigos

 

"As Vantagens de Ser Invisível" chegou às salas de forma tão discreta como a postura do seu protagonista, mas é bem capaz de ser a surpresa indie do ano. Sim, o cinema independente norte-americano já viu melhores dias e a estreia na realização de Stephen Chbosky (que escreveu, em 1999, o livro homónimo que agora adapta) não é a salvação de coisa nenhuma. Não há, neste drama adolescente que acompanha três estudantes do liceu, grandes ousadias formais a registar e o seu relato coming of age está longe de ser um prodígio de originalidade.

 

Nada disso impede, contudo, que "As Vantagens de Ser Invisível" seja um pequeno grande filme com um coração enorme, força que transparece tanto no argumento como no óbvio carinho que o realizador tem pelas suas personagens. Os actores seguem o seu exemplo: Emma Watson e Ezra Miller voltam a provar, para quem ainda não estivesse convencido, que são dois dos actores mais promissores da sua geração enquanto acolhem nesse núcleo o menos mediático (para já) Logan Lerman, que dá alma, complexidade e vulnerabilidade à personagem mais "invisível" junto dos que que a rodeiam (e que Chbosky apresenta, com outro olhar, ao espectador).

 

Não faltam, no cinema e na televisão, retratos do que sente e vive quem tem 15 ou 16 anos, embora haja poucos que o façam com a dedicação e sensibilidade de que "As Vantagens de Ser Invisível" nunca abdica. Das inseguranças à euforia, da rebeldia à solidão, passando pela descoberta, não está lá tudo (porque nunca está), mas está muito. Está um dos primeiros beijos mais mágicos vistos no grande ecrã nos últimos tempos, por exemplo, ou uma reviravolta capaz de mudar o tom com uma violência emocional inesperada (obrigando-nos a reavaliar o que ficou para trás) sem trair as personagens ou o espectador. E isso faz com que se desculpem os clichés ou a excessiva ingenuidade que o filme, apesar de tudo, também tem. Ainda há paciência para mais um filme indie que volta a juntar os Smiths às dores da adolescência? Se for o preço a pagar por uma obra tão empática e sincera como "As Vantagens de Ser Invisível", é um sacrifício mais do que justo (sobretudo se o cinismo ficar à porta da sala).