Sexo, mentiras e vídeos XXX
Através de filmes como "Mysterious Skin", "Brick", "A Origem" ou "Looper - Reflexo Assassino", Joseph Gordon-Levitt já podia orgulhar-se de ser um dos jovens actores norte-americanos com um currículo cada vez mais criterioso. Nada mau para alguém que corria o risco de ficar preso à imagem de miúdo da sitcom "3º Calhau a Contar do Sol", o papel mais popular dos seus primeiros anos.
Agora, "Don Jon" sugere que o melhor ainda pode estar para vir. A sua estreia na longa-metragem como argumentista e realizador não só lhe garante mais um desempenho surpreendente - e um papelão, diga-se - como o revela igualmente à vontade atrás das câmaras.
Entre Don Juan, Johnny Bravo e um participante do reality show "Jersey Shore", o protagonista é um jovem italo-americano entregue a uma rotina de engates, ginásio, trabalho, jantares com os pais e... pornografia online - aliás, muita pornografia online, como nos mostra o histórico do seu computador. Este último elemento acaba por ir ganhando especial atenção numa comédia romântica que, de tanto querer fintar os clichés do género, se arrisca a ser confundida com uma tentativa bronca e alarve. Felizmente, Gordon-Levitt não se fica pela superfície e o seu retrato sobre a dependência sexual é certeiro sem deixar de ser divertido, com um optimismo que faz sombra ao tom alarmista e piegas do sobrevalorizado "Vergonha", de Steve McQueen (centrado em situações comparáveis).
Não é preciso ser-se terrivelmente sisudo para falar de assuntos sérios e "Don Jon" sabe como atirar farpas a uma sociedade bem ciente de que o sexo vende - e que está pronta a usar todas as armas ao seu dispor. Sem olhar de cima para as personagens, o realizador e argumentista desenha um contraste fresco entre formas de ver a vida, o peso das expectativas ou o fosso entre o individualismo e a partilha, mantendo um estilo lúdico mas não reduzindo uma comédia a uma acumulação de gags.
Se Gordon-Levitt já tinha dado provas na interpretação, volta a fazê-lo aqui e logo com um dos seus protagonistas mais caricatos. O estereótipo do engatatão vai tendo algumas nuances, contrariedades, hesitações e no final já é uma personagem de corpo inteiro - e com a qual é difícil não sentirmos empatia.
A realização alia fluidez visual e narrativa, com repetições (e variações) de sequências estratégicas na definição da rotina, e só no argumento é que "Don Jon" ameaça tropeçar lá mais para o final. O desfecho não chega a cair no happy end hollywoodesco, fechado e atado com um lacinho - com o qual o filme brinca a certa altura -, embora resolva com demasiada facilidade (e rapidez) um estudo de personagem que perde aí alguma ousadia. Mas se o desenvolvimento dramático fica a uns passos do brilhantismo, a comédia é quase sempre irresistível - e vem elevar a fasquia de um ano especialmente fraco nesse departamento.
3,5/5