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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Woodroof, o Ranger do Texas

 

"O Clube de Dallas" confirma o que se tem dito: apesar dos papéis arriscados e transfiguradores dos seus últimos filmes, o de cowboy homofóbico mas humanizado parece ser mesmo o que vem mudar a forma como muitos olham para Matthew McConaughey. Também não é para menos: não só o seu Ron Woodroof surge como figura tridimensional (e a valer mais do que um famigerado processo de emagrecimento extremo, portanto) como o filme conseguiu uma popularidade bem superior à do muito aconselhável "Fuga", de Jeff Nichols, ou "Killer Joe", de William Friedkin.

 

Mas se a nova obra de Jean-Marc Vallée conquistou mais holofotes do que esses e outros filmes de viragem para McConaughey, será injusto encará-la como título a meter-se a jeito para os Óscares e outras distinções. É verdade que esta é, até certo ponto, mais uma história inspiradora - daquelas que a Academia não costuma deixar passar ao lado - e que as interpretações de personagens trangressoras q.b. surgem como atributo de menção quase inevitável - além do protagonista, Jared Leto destaca-se como um muito convincente transsexual.

A diferença é que o realizador canadiano não torna episódios verídicos dos primórdios da sida, em especial junto da comunidade LGBT, num pastelão edificante, pronto a beatificar o seu protagonista numa história maior do que a vida - ou seja, está a milhas do indigesto jogo de lágrimas de um "Milk", de Gus Vant Sant, por exemplo.

 

 

Sim, "O Clube de Dallas" mostra que Ron Woodroof teve um papel decisivo na mudança dos tratamentos dos portadores do VIH e foi dos primeiros a apontar o dedo aos interesses e prioridades (nem sempre muito dignos) do sistema de saúde e da indústria farmacêutica, mas a personagem a que McConaughey dá corpo está muito longe de ser um modelo de altruísmo e dedicação. O lado de activista acabou por resultar da determinação de um improvável homem de negócios muitas vezes irascível, para não dizer insuportável, que o realizador e actor tornam num protagonista com uma intensidade rara (e felizmente nunca sisuda, ou não fosse o humor, sempre oportuno, um dos trunfos de boa parte dos diálogos).

 

Como bónus, além da dupla masculina habitualmente comentada, o filme ainda vem comprovar, tal como "Juno", que Jennifer Garner está bem mais à vontade como secundária: a sua médica de bom coração, que poderia limitar-se a uma muleta do argumento, é inesperadamente credível e enriquece a moldura humana.

 

Dito isto, "O Clube de Dallas" também sofre de algumas limitações de muitos biopics. O estudo de personagens convive, nem sempre da melhor forma, com um esquematismo de procedural aquém da entrega do elenco. A condensação temporal apresentada por Jean-Marc Vallée, embora eficaz no relato da evolução da doença de Woodroof e da sua guerrilha comunitária, corta assim algum peso dramático que poderia sobressair noutros moldes narrativos. Nada que deite abaixo, de qualquer forma, a subtileza e inteligência de um filme que não se fica pelas boas intenções.

 

 

 

Na pele de uma loura

 

Depois de "Satellites" ter deixado, há algumas semanas, a suspeita de que o segundo álbum de EMA seguiria um caminho entre o industrial e o noise, "So Blonde" vem agora baralhar o rumo. A nova amostra de "The Future’s Void", agendado para 7 de Abril, é uma canção mais radiofriendly, apesar do refrão meio gritado, e soa a (bom) lado B dos Hole de meados dos anos 90.

 

Sem ser tão imponente como o primeiro single, mantém a expectativa em torno do regresso de Erika M. Andersen e mostra que a norte-americana está mais interessada no rock de há duas décadas do que em tendências e linguagens mais recentes. O videoclip confirma o anacronismo, num passeio por Venice Beach com a cantora em modo slacker entre skaters, summer babes e animação rudimentar que seria o último grito no mundo digital de 1995:

 

 

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