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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Estrela nascente ou cadente?

 

O tempo de Florrie já passou ou está só a começar? É difícil dizer quando a cantora (e compositora, baterista e modelo), ainda a meio dos 25 anos, já tem no currículo quatro EPs e vários singles e remisturas (incluindo remisturas de canções por editar), além de ter tocado com as Girls Aloud, Kylie Minogue ou Pet Shop Boys - algumas das principais referências da britânica, juntamente com os Beatles, ou não andasse a sua música entre a estrutura da canção pop clássica e malabarismos electrónicos.

 

Por outro lado, esta experiência de mais de meia década ainda não se traduziu num álbum, mantendo uma espera capaz de competir com a do regresso dos La Roux ou da estreia de Azealia Banks. Mesmo que o formato tenha perdido força na idade do MP3, um longa duração pode trazer outras atenções e ser a prova dos nove para alguém que já não é propriamente uma revelação mas ainda aguarda confirmação.

 

 

Seja como for, as canções de Florence Arnold não se têm dado mal com a opção pelo EP, até porque tanta concentração de açúcar funciona melhor em pequenas doses. Temas já com alguns anos, como "Give Me Your Love" ou "Shot You Down", por exemplo, ainda hoje seriam lufadas de ar fresco para as pistas de dança. E embora talvez nem tenham saído muito, infelizmente, de um pequeno círculo de discotecas londrinas, não são menos válidas enquanto docinhos pop que convém ter sempre à mão na rotina de segunda à sexta - valem por uns quantos cafés, com a vantagem de serem mais fáceis de consumir no metro ou no comboio.

 

"Sirens", editado no final de Abril, traz mais alguns cartuchos estimáveis para a colecção e tem a particularidade de ser o último EP antes do álbum - apontado (sem grandes certezas, lá está) para o final do ano ou inícios de 2015. Três inéditos e duas remisturas são, por agora, o aperitivo possível, e nos originais Florrie tanto brinca com as estruturas da canção em exercícios minimalistas e pegajosos - "Seashells" e "Free Falling", com a marca da produção Xenomania - como vai à quase balada com dinamismo rítmico q.b. - "Wanna Control Myself", mais Lana Del Rey do que a habitualmente comparada Annie.

As canções já têm videoclips, todos protagonizados pela sua autora em pose invariavelmente blasé. Mas ao vivo a cantora e baterista mostra-se mais emotiva, a julgar pela interpretação de "Looking for Love in the Wrong Place", novo tema que o Popjustice propõe, e bem, como próximo single. Se o álbum seguir essas pisadas, não será difícil desculpar o atraso:

 

"Seashells":

 

"Free Falling":

 

"Wanna Control Myself":

 

A vida de Isabelle

 

"Jovem e Bela" tem sido habitualmente rotulado como um update de "A Bela de Dia", de Buñuel, sobretudo por se centrar num caso de prostituição em ambiente burguês. A aproximação fará sentido, mas este drama de François Ozon também deve tanto (talvez até mais) a "Aos Nossos Amores", de Maurice Pialat, que chocou meia França, há trinta anos, ao explorar a ávida iniciação sexual de uma adolescente.

 

Ozon assume a influência, confessa a admiração pela actriz-revelação desse filme, Sandrine Bonnaire, e talvez por isso tenha apostado tanto em Marine Vacth, a tal "jovem e bela" (e até aqui desconhecida) que leva a sua nova obra às costas sem parecer esforçar-se muito.

A interpretação da protagonista, a desenhar com subtileza uma personagem esquiva e opaca como Isabelle, é, de resto, a maior surpresa de um filme incapaz de se medir com o nervo das inspirações. Admita-se que o realizador francês também não parece estar muito interessado nisso, mas se por um lado é bom ver um olhar sobre a prostituição de uma adolescente filmado com elegância, imune quer a moralismos quer a efeitos de choque, sente-se falta de alguma singularidade neste retrato.

 

 

Depois da desconstrução lúdica e engenhosa de "Dentro de Casa", "Jovem e Bela" opta por uma linearidade com o rigor e inteligência esperados de Ozon, embora não desvie a acção para cenários muito distantes daqueles resumidos no trailer (demasiado revelador, já agora) ou expectáveis tendo em conta a premissa.

 

A divisão da narrativa em quatro capítulos, que acompanham as estações do ano e são condimentados com canções de Françoise Hardy, é mais eficaz do que brilhante, o que não invalida que o último segmento seja especialmente conseguido por fugir ao rumo "normalizador" sugerido pelo anterior. E ao não trair a natureza de Isabelle, protagonista complexa a desfazer o rótulo de "prostituta adolescente", Ozon garante que esta ainda é uma obra merecedora de atenção - "Jovem e Bela", pois sim, mesmo que a abordagem ganhasse em juntar carne a um esquematismo tão pele e osso.