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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Não havia necessidade... (parte 2)

 

Dois anos depois de uma primeira aventura desnecessária, embora promissora, "O Fantástico Homem-Aranha 2: O Poder de Electro" regressa às origens do alter ego de Peter Parker novamente pela mão de Marc Webb. Mais uma vez, a comparação com a trilogia de Sam Raimi, ainda longe de esquecida, revela-se inevitável e esta nova saga, protagonizada por Andrew Garfield, volta a sair a perder. Pior ainda: a sequela está uns furos abaixo do filme antecessor, cuja fluidez e simplicidade nem sempre se encontram nestas quase duas horas e meia.

 

Na sua modéstia, "O Fantástico Homem-Aranha" não conseguia disfarçar a redundância do argumento mas provava que menos pode ser mais, dando espaço às personagens e valendo-se, em especial, da química entre Peter Parker e Gwen Stacy. Já este regresso sofre do mal de algumas sequelas e confunde ambição com excesso, aumentando o número de vilões e entulhando a narrativa com subenredos de pertinência duvidosa.

Por um lado, "O Fantástico Homem-Aranha 2: O Poder de Electro" tem a missão de abrir caminho para as novas derivações do universo do seu protagonista - os filmes de Venom e do Sexteto Sinistro são os próximos da lista e há aqui alusões óbvias ao segundo. Por outro, volta atrás para reinventar a origem do super-herói enquanto recorda a história trágica dos seus pais. O mistério já não era propriamente intrigante na BD e só atrapalha um filme que não precisava de mais personagens quando mal acompanha as principais.

 

O vilão do título, por exemplo, é dos mais pobres da saga do Homem-Aranha no grande ecrã, não tanto por Jamie Foxx ser um actor limitado mas porque a personagem se resume a pouco mais do que um efeito especial a debitar expressões monossilábicas. O argumento até tenta justificar as motivações de Electro ao relacioná-las com a solidão das grandes cidades, mas a abordagem é esquemática e o resultado, como alguns fãs têm apontado, lembra o pouco saudoso Mr. Freeze de Schwarzenegger em "Batman & Robin".

 

 

Também na lista de antagonistas, Paul Giamatti tem ainda menos impacto (e menos tempo de antena) como Rhino, desperdiçando talento numa caricatura sem graça, e por isso Dane DeHaan é o único a dar alguma espessura ao seu vilão. Mesmo assim, o actor-revelação do surpreendente "Crónica" só entra a meio e deixa a sensação de o seu Harry Osborn/Duende Verde ter sido mal aproveitado por ser obrigado a ceder espaço à ameaça principal.

 

Felizmente, Andrew Garfield e Emma Stone fazem com que "O Fantástico Homem-Aranha 2: O Poder de Electro", mesmo irregular, não seja uma experiência completamente falhada. Marc Webb tenta equilibrar o festival de CGI com uma dimensão humana tão ou mais determinante para as aventuras de Peter Parker e o casal protagonista volta a estar à altura. Os diálogos é que nem sempre ajudam - sentia-se mais espontaneidade no episódio anterior - e a música ainda menos - dispensava-se a partitura algo melosa e dubstep genérico -, embora nada disso impeça que uma das cenas finais com o casal, decisiva na BD, esteja entre os grandes momentos da saga.

É pena que também seja das poucas sequências sem histeria audiovisual, imprimindo um intimismo a sugerir outro filme, mais sóbrio e envolvente. Aquele que o realizador oferece desta vez, além dos vilões pouco desenvolvidos, quase torna a empresa Oscorp, e não Nova Iorque, no cenário da acção (a relação do protagonista com a cidade era um dos trunfos da trilogia de Raimi) e essa troca impõe um exagero de coincidências que obriga a elevar muito a suspensão da descrença (sobretudo em relação ao segredo sobre a origem, mesmo tendo em conta que se trata de um filme de super-heróis). Para a próxima, talvez seja melhor que Webb gaste parte do orçamento a tentar criar um sentido de aranha personalizado, capaz de prevenir tantas ameaças a um argumento coerente...

 

 

 

 

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