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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Os meios e a mensagem

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Se nos últimos anos tem sido cada vez mais comum ver actores a transitar entre o grande e o pequeno ecrã, atrás das câmaras a tendência também começa a tornar-se habitual. Michael Cuesta, não sendo um precursor de uma relação regular tanto com o cinema como com a televisão, tem experimentado os dois formatos desde a estreia nas longas metragens, com "L.I.E. - Sem Saída", em 2001.

Depois de uma obra tão inspirada, um dos melhores dramas coming of age de inícios do milénio, o norte-americano assinou episódios de "Sete Palmos de Terra", a primeira de algumas séries bem cotadas que têm marcado boa parte do seu percurso - "Dexter" e "Segurança Nacional" foram outras das que se seguiram.

No cinema, no entanto, o título de maior impacto continua a ser mesmo o que juntou a revelação Paul Dano ao veterano Brian Cox. "Aos Doze e Tantos" (2005), o filme seguinte, ainda voltou a mostrar sensibilidade para retratar a adolescência, mas desde aí as obras de Cuesta têm sido mais indistintas (como "Tell Tale", de 2009, mediano veículo para Josh Lucas).

"Matem o Mensageiro" não vem, infelizmente, mudar o rumo da sua filmografia. Reforça, aliás, que a alternância entre a televisão e o cinema acabou por levar para o segundo parte da linguagem da primeira. Este thriller centrado na história verídica de Gary Webb, jornalista de investigação que denunciou, nos anos 90, o envolvimento estratégico da CIA na importação de crack e nos conflitos da Nicarágua na década anterior, tem tanto de interesse histórico e político no tema como de rotineiro e impessoal na abordagem.

 

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Apesar dos valores de produção, da dedicação do elenco (desde o protagonista Jeremy Renner ao valioso naipe de secundários como Michael Sheen, Barry Pepper, Mary Elizabeth Winstead ou Ray Liotta) e da força de alguns diálogos, na essência "Matem o Mensageiro" não vai muito além da lógica de um telefilme competente e aplicado, com a mensagem (relevante e bem intencionada, é certo) a sobrepor-se a tudo o resto.

Entre uma primeira metade mais dedicada à investigação, que raramente se afasta de muletas expositivas, e uma segunda mais engajada, e também mais centrada no cruzamento da vida pessoal e profissional de Webb, o filme acompanha-se com interesse sem que o retrato humano esteja à altura do peso das manobras de bastidores reveladas. E se Jeremy Renner ainda consegue desenhar um protagonista apropriadamente tenso e irredutível, esquivando-se ao estereótipo do jornalista como arauto da verdade sugerido pelo argumento, os que estão à sua volta não têm grande espaço para completar um retrato tão complexo.

Nem que fosse pelo final, a conjugar triunfo e angústia, e sobretudo pelo que é revelado nos últimos segundos, valeria sempre a pena espreitar "Matem o Mensageiro". Mas é pena que o resultado algo formulaico pareça ter mais de um tarefeiro, embora rigoroso e lúcido, do que do olhar de cineasta que "L.I.E. - Sem Saída" insinuava tão bem. Tendo em conta o seu percurso desde aí, talvez Cuesta tirasse maior partido desta história numa série, até porque os tais últimos segundos mostram que ainda ficou muito por contar...

 

 

 

Um disparo do passado

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Em Fevereiro, com "Too Much Information", os Maxïmo Park ameaçaram deixar de vez o pós-punk que os inspirou desde a estreia, há quase dez anos. Mas se a troca das guitarras pelos sintetizadores gerou alguns dos melhores momentos do quinto álbum dos britânicos, acabou por não ser regra num alinhamento tão intrigado pelo futuro como (ainda) agarrado ao passado.

"Give, Get, Take", o tema de abertura e nova aposta oficial, está mais próximo dos Maxïmo Park que já conhecíamos do que do desafio de singles anteriores como "Brain Cells" ou "Leave This Island", o que não o impede de funcionar como um rastilho eficaz para o álbum. Em vez de electrónica turva, a banda opta por um rock acelerado a lembrar a faceta mais efervescente de uns Editors (inspirados) ou David Fonseca, energia concentrada num videoclip caseiro e sem grande aparato, nova chamada de atenção para um dos bons regressos do ano: