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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

O fim é o princípio é o fim

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"The Inevitable End" pode ter sido anunciado como o último álbum dos RÖYKSOPP, mas não é por isso que a dupla norueguesa tem deixado de o promover antes de se dedicar a outros formatos de edição. E ainda bem, porque o disco foi das melhores surpresas do ano passado, sobretudo no departamento electrónico, e também tem lugar cativo entre os mais aconselháveis de Svein Berge e Torbjørn Brundtland.

 

Para o derradeiro longa-duração, o duo convidou gente como Robyn ou Susanne Sundfør, embora a voz mais recorrente tenha sido a de Jamie McDermott, dos The Irrepressibles. "I HAD THIS THING", uma das canções interpretadas pelo britânico, era a que tinha um perfil de single mais óbvio e não admira que tenha sido escolhida como nova aposta oficial.

 

Se em alguns casos a melancolia de McDermott pode pecar por excesso, aqui é equilibrada por um belo embalo de synthpop, dançável sem ser chegar a ser frenético, num daqueles temas a destacar num eventual best of dos Röyksopp (e esse já peca pela demora...). O videoclip é parte ilustração da letra (centrada no final de uma relação amorosa)/ parte delírio apocalíptico, com um tom ingénuo e sonhador à medida da canção (e a fazer lembrar o drama indie "Cometa", que passou pelas salas há poucos meses):

 

 

"Capitão Falcão": 10 motivos para não deixar passar este ovni

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A missão de "CAPITÃO FALCÃO" nas salas está a terminar. O filme de João Leitão, centrado no delirante primeiro super-herói português, despede-se do circuito comercial na próxima semana e é dos poucos (pouquíssimos, mesmo) que deram bom nome à comédia feita por cá em muito tempo, a milhas dos enlatados televisivos  e duvidosos (com "humoristas" ainda mais questionáveis) que inexplicavelmente têm direito a estreia.

Não é que, neste caso, as raízes televisivas não se notem. O projecto começou como uma série e, ao fim de quase duas horas de sessão, deixa a ideia de que funcionaria melhor em episódios de 15 ou 20 minutos do que como longa-metragem - com uma mão cheia de cenas muito bem construídas, admita-se, mas nem sempre tão articuladas ou valorizadas pelo conjunto. Seja como for, o concentrado de ideias, sobretudo o descaramento de um super-herói fascista durante o Estado Novo, é quase sempre divertido (às vezes, muito) e resulta num dos ovnis cinematográficos da temporada - vale a pena espreitá-lo na semana da Festa do Cinema por estes motivos e mais alguns:

1 - O genérico inicial: Se a primeira impressão é a que mais conta, as imagens de "Capitão Falcão" começam por impressionar nestas sequências de animação com uma versão muito livre e lúdica da História de Portugal. E também revelam uma rara atenção ao detalhe mantida em muitas sequências seguintes;

2 - O próprio Capitão Falcão: Depois de ver a interpretação de Gonçalo Waddington, torna-se difícil imaginar outro actor português capaz de se entregar tanto ao overacting que o protagonista pede. Mais do que os diálogos em si, os olhares ou a entoação são logo meio caminho para atestar o gozo evidente de um desempenho destes, ainda assim dado a nuances quando o herói revela uma faceta menos histriónica;

3 - Salazar: Ainda vamos a tempo de pedir um spin-off (nem que seja uma websérie com sketches)? O Salazar amável e caseirinho de José Pinto é um achado e compensa plenamente outros secundários demasiado esquemáticos. Uma cena na cozinha ou a do discurso final são de antologia e fazem pedir mais aparições do Senhor Presidente do Conselho;

4 - A banda sonora: Noutros casos remetida a mero papel de parede, aqui a música é todo um programa à parte. As composições de Pedro Marques mostram-se peça fundamental do desbragadamento do filme e a conjugação com a acção é tão meticulosa como o trabalho de um relojoeiro suíço, com alternâncias e contrastes muitas vezes abruptos mas sempre coerentes;

5 - As referências: Não é preciso conhecê-las todas (até porque é provável que um revisionamento desvende mais algumas), mas boa parte da diversão deve-se às piscadelas de olho ao universo da BD, cinema e televisão clássicos - mas não necessariamente canónicos. O Batman de Adam West, a escola dos Monty Python, Power Rangers, Green Hornet ou "A Guerra das Estrelas" passam por aqui...

6 - Os separadores: Como foi dito no ponto acima, a carga camp da série do Batman dos anos 50 é uma das maiores referências e as citações mais fortes, em jeito de homenagem, talvez sejam os separadores dinâmicos que pontuam a acção. Têm mais piada à primeira, mas acabam por ajudar quando interrompem algumas cenas que já vão longas lá para o meio;

7 - A componente técnica: "Nem parece português". Este comentário é muitas vezes injusto para o (bom) cinema que também se vai fazendo por cá, mas neste caso não há mesmo muitos (ou alguns) filmes nacionais com uma direcção artística tão devedora da BD e tão condizente com o tom do filme. O guarda roupa, a fotografia e as coreografias dos combates corpo a corpo mostram empenho e merecem elogios:

8 - Doces, muitos doces: A melhor cena do filme talvez seja a de um jantar, ainda antes da sobremesa, onde não faltam brandos costumes, mas é noutra que Capitão Falcão, apesar dos muitos defeitos que possa ter como homem e agente, prova que sabe valorizar a doçaria portuguesa... e de forma estratégica;

9 - A cena pós-créditos: Como qualquer filme de super-heróis que se preze, aqui também há um gancho para uma sequela já depois do desfecho. E com direito a ambiente sombrio e nervoso no primeiro vislumbre de um novo vilão...

10 - Puto Perdiz: Sem comentários.