Podia ser um gelado de Verão, mas é talvez mais calórico. "MILK-CHOC", o novo single dos KAZAKY, afasta-se do tom geralmente nocturno da música do trio ucraniano e celebra a praia e bronzeados de forma tão lúdica como temas na linha de "What You Gonna Do".
Numa semana em que a agenda LGBT dominou atenções (basta dar um salto ao Facebook), a boy band queer acerta no timing tanto noticioso como estival e prepara caminho para o terceiro álbum. Artemy Lazarev, Artur Gaspar e Kyryll Fedorenko parecem continuar a apostar em electrónica dançável e bem humorada, aqui entre a house, o disco e o electro e com travo a Human League, Hercules and Love Affair ou a faceta menos sombria de uns Presets.
A fórmula é contagiante e a canção bem merecia um lugar ao sol, sobretudo quando comparada com certos hinos da temporada. O videoclip, como sempre, inclui coreografias dos rapazes, aqui mais contidas do que em exemplos anteriores, e mantém o ambiente de inícios dos anos 90 palpável na canção (aqueles teclados house não enganam), ao espreitar um ginásio que não proíbe a entrada de doçaria. Além da bebida que dá título ao single, há a participação especial do creme de cacau e avelã que gerou polémica há umas semanas:
Melhor episódio piloto dos últimos tempos? Muito provavelmente o de "MR. ROBOT", que deixa uma óptima primeira impressão apesar de não conseguir disfarçar - nem sequer tentar, aliás - a pilhagem do universo de David Fincher.
A nova aposta do USA Network, séria candidata a fenómeno de culto renovada para uma segunda temporada no dia da estreia televisiva, na passada quarta-feira (depois de o canal ter disponibilizado o primeiro capítulo online quase um mês antes), tem já lugar cativo entre as surpresas do ano. Porque mesmo que os episódios seguintes não estejam à altura, o arranque serve uma hora da melhor televisão recente, experiência ainda mais inesperada quando tem a assinatura de um realizador com um currículo breve e discreto.
Sam Esmail, autor do promissor "Cometa", desconstrução da comédia romântica com uma tímida passagem pelas salas nacionais este ano, parece querer ir bem mais longe como criador e argumentista no pequeno ecrã. Entre piscadelas de olho a "Clube de Combate", "A Rede Social" ou "Matrix", o norte-americano combina aqui drama e thriller numa série que, à imagem desses filmes, capta como poucas o ar dos tempos e sabe conjugar estilo e substância.
Mas o mérito de "MR. ROBOT" não se deve só ao seu autor. Rami Malek, jovem actor pouco conhecido, é tão ou mais decisivo para que o episódio piloto funcione. Apesar de contar com vários papéis nos últimos dez anos, sobretudo como secundário, será justo dizer que esta é a sua verdadeira revelação, na pele de uma das personagens mais magnéticas do momento. Elliot Alderson, que passa despercebido como programador de uma empresa de segurança cibernética de Nova Iorque, é também um hacker de topo que troca a vida social por um papel de vigilante online, seja para denunciar pedófilos ou identificar más companhias daqueles que lhe são próximos (não que sejam muitos, dado o seu comportamento nas fronteiras do socialmente aceite).
O que noutros casos podia ser reduzido a um estereótipo geek, com direito a tiques e afectações, resulta aqui num protagonista complexo e tridimensional, sem modelos muito próximos, graças à postura circunspecta mas sarcástica e empática de Malek e a um argumento cujas teorias da conspiração não se impõem ao estudo de personagem. Admita-se, aliás, que a viagem aos meandros do mundo tecnológico e empresarial, assombrada por um clima de desconfiança, paranóia e alienação em relação ao sistema, está longe de ser original. Mas o misto de obstinação e vulnerabilidade do (anti-)herói de "MR. ROBOT" e uma narrativa que nunca perde ritmo enquanto passa por vários registos - há tensão e suspense ao lado de humor perfeitamente integrado - concede-lhe uma energia invulgar e muito promissora.
Falou-se acima de David Fincher e é curioso notar que quem realiza este primeiro episódio é o dinamarquês Niels Arden Oplev, responsável pela versão original de "The Girl with the Dragon Tattoo", adaptada pelo cineasta de "Sete Pecados Mortais". Mais curioso ainda é o facto de a série ter, pelo menos para já, uma urgência que a filmografia de Fincher tem vindo a perder há uns anos. "MR. ROBOT" até se atreve a optar por uma banda sonora que não poderia soar mais à parceria de Trent Reznor e Atticus Ross em filmes como "Em Parte Incerta", mas não é nada que não se desculpe quando a música se adequa tão bem ao misto de realismo e alucinação urbana, mais uma via para nos mergulhar na forma como o protagonista encara o mundo - e as suas certezas deixam muitas dúvidas, ambiguidade que só torna este retrato mais engenhoso.
Rami Malek é tão intrigante que ofusca por completo Christian Slater, recuperado como instigador da aliança do protagonista a uma organização secreta cujo verdadeiro propósito deverá originar algumas reviravoltas. Se forem todas como as deste primeiro episódio, o fenómeno está só a começar...