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gonn1000

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

A vida e tudo o mais

Stars' new album, <em>No One Is Lost</em>, comes out Oct. 14

 

O que é que andamos cá a fazer? O que é que nos move? Vale a pena continuar a fazer o que gostamos, ou sequer tentar? Perguntas como esta não são tema habitual de videoclips de artistas pop - alguns preferem encher a vista com cameos de Katy Perry, Miley Cyrus ou outras estrelas do momento -, mas os STARS também não são uma banda pop normal.

 

"NO ONE IS LOST", faixa título e novo single do sétimo álbum dos canadianos, é, mesmo assim, a canção em que o grupo mais sai do nicho indie que começou a ocupar com "Nightsongs" (2001). Noutros casos, uma aproximação tão descarada à EDM poderia fazer temer o pior, sobretudo vinda de uma banda com discos quase sempre contidos. Felizmente, a cobertura electrónica e a pulsão rítmica mais acentuada dão-se bem com a mistura de melancolia a esperança típica dos Stars, que não sai beliscada apesar do apelo à pista de dança (uma aposta mantida - e ganha - ao longo do último álbum, aliás).

 

O videoclip dá conta da agitação no palco - e junto do público - que a viragem trouxe, mas antes foca os bastidores em conversas entre os elementos da banda, com confidências sobre aspirações pessoais e musicais. Esse tipo de discussão, em modo espirituoso q.b., já tinha passado pelo videoclip do single anterior, "Trap Door", e vai mais longe numa quase curta metragem ambientada na Cidade do México (retratada sem os lugares comuns do postal turístico). O tom dificilmente poderia ser mais apropriado para uma canção que repete frases agridoces como "Put your hands up 'cause everybody dies":

 

 

Na feira ao cair da noite

Comprar ou não comprar? Mesmo com preços convidativos (ou talvez precisamente por causa deles), o dilema de uma visita à FEIRA DO LIVRO DE LISBOA não costuma demorar muito a instalar-se. E nem está em causa o interesse de muitas propostas que vou encontrando pelas bancas, antes o tempo que, passado o acto (e entusiasmo) da compra, consigo dedicar-lhes nos dias, meses ou anos seguintes, conforme os casos. Já a contar com isso, e a olhar para mais uma pilha em lista de espera nas estantes lá de casa, desta vez obriguei-me a ficar-me pelos mínimos e a ler pelo menos uma das compras anteriores até ao fim da edição deste ano, este domingo. E não correu mal.

 

aocairdanoite

 

Apesar de ter gostado de "Uma Casa no Fim do Mundo" (1990) e ainda mais de "Sangue do Meu Sangue" (1995), "Dias Exemplares" (2005) fez-me deixar Michael Cunningham de lado durante uns tempos - não cheguei a passar pelo mais celebrado "As Horas" (1998), talvez não devesse ter começado pelo filme. Mas escusava de ter deixado "AO CAIR DA NOITE" (2010) arrumado desde há umas quantas feiras do livro. Não tem o factor surpresa nem a ambição dos títulos mais antigos do norte-americano, uma vez que o território (narrativo, temático e emocional) já é familiar, embora isso seja bom (bastante, até) depois da estrutura tripartida e dos ambientes de ficção científica do livro anterior.

 

Se algumas das suas obras foram adaptadas para cinema, Cunningham admitiu que este romance seria menos apetecível para o grande ecrã e ao lê-lo percebe-se porquê. A história de um negociante de uma galeria de arte na casa dos quarenta e da sua relação com o cunhado, irmão mais novo da sua mulher à procura de um rumo além das drogas, não é propriamente rica em acontecimentos e menos ainda em grandes reviravoltas ou tramas secundárias. O que interessa aqui é o universo interior do protagonista, que o autor consegue explorar sem cair nos clichés de crises de meia-idade, do marasmo e ressentimentos conjugais, do questionamento da orientação sexual (mesmo numa idade já muito além da adolescência) ou do papel da arte, elementos fortes de um retrato profundo sem ser sisudo nem exaustivo, mérito de uma escrita ágil, limpa e capaz de encontrar humor entre o caos existencial.

 

Acessos de micro raiva entre marido e mulher, uma descrição original de uma viagem de táxi em Nova Iorque (que poderia aplicar-se a uma metrópole europeia, embora a cidade não seja mero cenário da acção) ou um apontamento tão implacável como realista do peso dos silêncios em (re)encontros ficam entre muitos momentos a sublinhar por aqui. E também como mais uma prova da capacidade de Cunningham para medir o pulso das relações humanas contemporâneas, através de alguns dos seus temas de eleição (amor, desejo, morte, família), que chegarão a mais gente do que as muitas alusões a autores e obras da literatura e da pintura - felizmente, o namedrop, às vezes excessivo, está longe de ser determinante para o balanço (bem satisfatório) da leitura.

 

 

x-force

 

Voltando à Feira do Livro... Desta vez, não serviu tanto para ir descobrindo mais da obra de Cunningham ou de alguns seus contemporâneos (Jay McInerney, Richard Ford, Douglas Coupland, David Leavitt...), mas para voltar a esgravatar bancas de alfarrabistas. A mania vem desde que há uns 15 anos, e com uns 15 anos, percorria quiosques e lojas entre o Rossio e o Cais do Sodré (ou a Feira da Ladra, se fosse à terça ou ao sábado), quase sempre à procura de BD, quase sempre de comics.

 

O hábito foi ficando pelo caminho (a internet foi chegando entretanto, outros hobbies também) e a Feira do Livro deu para matar as saudades. Até porque é sempre bom juntar mais umas edições da fase mais divertida da "Liga da Justiça" à colecção, a de Keith Giffen e J. M. DeMatteis, antes da tendência "séria" da DC pós-Nolan (com todas as excepções). Ou de um dos momentos mais subestimados da Marvel nos anos 90 (e do universo mutante em especial), a "X-Force" de John Francis Moore e Adam Pollina, outro caso de personagens de segunda linha que tiveram direito a uma vida mais interessante (e mutável) do que muitas das principais, à margem das grandes sagas e eventos da casa (ter um fraquinho por histórias coming of age na estrada ajuda). Já a bolsa de apostas ficou deste lado do Atlântico, com "Alguns Dias com um Mentiroso", do francês Étienne Davodeau - para descobrir, de preferência, antes da próxima romaria às bancas do Parque Eduardo VII.

 

algunsdiascomummentiroso

 

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