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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Adiante, Vingadores

era_de_ultron

 

"VINGADORES: A ERA DE ULTRON" é a Marvel a marcar passo. Depois do factor surpresa da primeira aventura, a funcionar como cereja em cima do bolo para filmes do Capitão América, Homem de Ferro ou Thor, a segunda leva mais longe a ideia de crossover importada da BD e está, muitas vezes (demasiadas vezes?), mais preocupada em deixar pistas para outras sagas do que em dar tempo de antena à que tem em mãos. Ou pelo menos o tempo de antena necessário para que esta sequela não deixe a sensação de uma experiência competente e divertida q.b., mas também apressada e condensada apesar das mais de duas horas de duração.

 

Joss Whedon até tenta desenvolver as personagens que ainda não tiveram direito a filme próprio e não foram muito valorizadas no antecessor. O Gavião Arqueiro, em especial, acaba por ser o coração da equipa e Jeremy Renner ajuda bastante, embora o seu subenredo se afaste tanto da matriz da BD que o torna quase num Capitão América com vida familiar.

Ainda assim, essa mudança é preferível ao romance atribulado entre a Viúva Negra e Hulk, liberdade criativa mais forçada do que espontânea e sem o fôlego dramático a que aspira. Talvez porque Renner tem mais carisma sozinho do que Mark Ruffalo e Scarlett Johannson juntos? Isso e o facto de o alter ego de Bruce Banner, tão bem aproveitado nas melhores cenas cómicas do primeiro filme, não sair a ganhar com a troca para figura atormentada. E Natasha Romanova merecia mais do que o estatuto de namorada que precisa de ser salva...

 

Ultron

 

Mas mais do que neles, "VINGADORES: A ERA DE ULTRON" centra-se no Tony Stark de Robert Downey Jr., actor que parece contentar-se com um Homem de Ferro a disparar sarcasmo em piloto automático. Teve alguma graça noutras aventuras, aqui já perdeu a frescura e tem a desvantagem de não contar com diálogos tão certeiros como os do filme anterior. Corre particularmente mal no combate contra Hulk no meio de uma cidade, com tiradas supostamente espirituosas, mas na prática despropositadas, incapazes de evitar más lembranças do final de "Homem de Aço" cruzado com uma sequência de "Transformers".

 

Há coisas pelas quais vale a pena esperar. O Visão, por exemplo, é o sonho de muitos fãs tornado realidade, andróide impecavelmente encarnado por Paul Bettany e com reforço de CGI na dose certa. Só que, como outras novas personagens, acaba por ser mais um pormenor curioso do que um elemento determinante.

Os muito aguardados Feiticeira Escarlate e Mercúrio, outro chamariz, são reduzidos a muletas do argumento - ele, então, é praticamente um figurante, uma pena quando esta versão é mais condizente com a BD do que a de "X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido" e Aaron Taylor-Johnson mostra ter perfil (e mau feitio) para a personagem.

 

Em vez de se interessar a sério por estas figuras, o filme tem de desdobrar-se em teasers para as próximas sagas, o que explica incursões confusas por Wakanda ou uma cena despropositada com Thor numa caverna, imposições dos estúdios a comprometer um blockbuster de autor que se fica pela tentativa (por muito que alguns apontem a química das personagens ou os diálogos à Whedon, na verdade pouco distantes dos de outros filmes-pipoca).

 

mercurio_feiticeira_escarlate

 

O que poderia ser uma aventura com identidade é mais uma peça numa engrenagem cada vez maior e mais homogénea. Visualmente, é tão indiferenciada como os outros filmes da Marvel (descontando, vá, o primeiro do Capitão América), aquém do que Sam Raimi conseguiu com o Homem-Aranha ou Bryan Singer e Matthew Vaughn nos X-Men. Narrativamente, opta pela rotina com um final a lembrar demasiado o de "Capitão América: O Soldado do Inverno" ou "Guardiões da Galáxia" e solução Deus ex machina que anula qualquer risco (e que implica ver a série "Agents of S.H.I.E.L.D." para não parecer tão gratuita). Mas mesmo que a ameaça seja forte, é difícil levar a morte a sério quando Phil Coulson, Nick Fury ou Groot ressuscitaram sem problemas em episódios anteriores deste universo partilhado.

 

E o próprio Ultron que dá nome ao filme? Também ele perde quando Whedon tem de dar muita coisa a muita gente, deixando um robot vingativo e munido de humor negro a meio caminho de um vilão realmente memorável. A relação com o seu criador, Tony Stark, não tem grande espaço para ser explorada e o plano de destruição mostra-se menos bem arquitectado do que promete - como acontece com o filme, aliás. Mas "Capitão América: Guerra Civil" é que vai ser, garante meia internet...

 

 

 

Queimar soutiens? Não, basta ter orgulho na mini-saia

braids

De Beyoncé a Madonna, de Grimes a Lana Del Rey, o feminismo e a objectificação da mulher têm sido tema de boa parte da pop recente - da música ou de alguns depoimentos das suas autoras. Mas poucas canções dos últimos tempos terão sido tão contundentes a abordar o assunto como o novo single dos BRAIDS.

A conversa do visual "provocante" como desculpa para a violação é tão triste como antiga e mais do que inspiradora para uma canção como "MINISKIRT", que também passa pelos dois pesos e duas medidas aplicados a comportamentos masculinos e femininos. "I am not a man hater/ I enjoy them like cake/ But in my position/ I'm the slut/ I'm the bitch/ I'm the whore", dispara Raphaelle Standell-Preston, a mostrar força por trás da voz doce e aparentemente frágil. "You feel you've the right to touch me/ Cause I asked for it/ In my little miniskirt", continua, antes de chegar ao pico de um potente manifesto feminista quando defende "My little miniskirt/ It's mine, all mine".

A discussão está longe de ser nova, os argumentos da banda também, mas não só continua a fazer sentido como é bem trabalhada numa canção que não se esgota na agenda política. O arranque relativamente apaziguado e minimalista, ao piano, vai dando lugar a electrónica mais agitada, de perfil glitch, que recusa a estrutura formatada insinuada pelo refrão - e acaba por acompanhar o relato de outra experiência de domínio masculino nos últimos minutos, ainda assim a contornar a vitimização. O resultado é um dos pilares do terceiro e novo álbum dos canadianos, "Deep in the Iris", e Kevan Funk contou à Pitchfork ter-se inspirado na sua "beleza incendiária" e na ideia de controlo da natureza para realizar o videoclip: