Uma estreia com sangue azul
Podia limitar-se a replicar boa parte da programação do Queer Lisboa 19 que já não seria mau, mas a primeira edição do QUEER PORTO, que arranca esta quarta-feira, é mais vincada por apostas inéditas. Apostas como o filme da sessão de abertura, o drama familiar "Sangue Azul", do brasileiro Lírio Ferreira, que chega cá depois de ter sido distinguido como Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro e de ter inaugurado a secção Panorama da última edição da Berlinale.
Até dia 10, a extensão do Festival Internacional de Cinema Queer à Invicta tem mais 27 filmes LGBT em destaque, com passagem pelo Teatro Municipal Rivoli. A Mala Voadora (dedicada a curtas-metragens e instalações), a Galeria Wrong Weather (palco da vídeo instalação "The Golden Age of American Male"), o Maus Hábitos e a Casa do Livro são os outros espaços a abrir portas à estreia do evento. Ao contrário do Queer Lisboa, por enquanto há apenas uma secção competitiva, que junta 12 longas-metragens de ficção e documentários. E dessa lista, há pelo menos três que parecem justificar a visita ao Auditório Isabel Alves Costa:
"DÓLARES DE ARENA": Filmes da República Dominicana por cá são uma raridade, até porque o país é mais conhecido pela oferta turística do que pela produção cinematográfica. Não admira, por isso, que este drama de Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán tenha as férias no centro da narrativa, ao seguir um casal jovem e a relação da rapariga com uma mulher mais velha, francesa e solitária, que parece surgir como solução óbvia para problemas financeiros. Só que a ligação comercial também pode deixar consequências emocionais, nesta terceira longa-metragem da dupla de realizadores que tem colhido elogios pelo realismo dos ambientes e interpretações das protagonistas.
"MARIPOSA": Marco Berger não será um nome estranho para boa parte do público do Queer Lisboa. O festival já apresentou alguns dos filmes mais celebrados do argentino, como os recomendáveis "Plano B" ou "Ausente" (premiado com o Teddy Award da Berlinale), e se este ano não o incluiu na programação, guardou-o como um dos trunfos da estreia no Porto. Em vez dos dramas relativamente simples e lineares desses antecessores, esta nova (e já sétima) longa-metragem atira-se a duas realidades distintas centradas no mesmo casal, embora numa a dupla seja composta por irmãos e noutra tome a forma de um homem e uma mulher. Relatadas tanto em separado como em simultâneo (através de split screens), as peripécias deverão estar entre as experiências mais curiosas da selecção do festival.
"THE NIGHT": Com apenas 21 anos, Zhou Hao assina e protagoniza a sua estreia nas longas-metragens depois de duas curtas. O jovem realizador chinês encarrega-se ainda da banda sonora deste drama de iniciação amorosa e sexual em ambientes nocturnos, centrado em dois prostitutos e numa paixão inesperada por uma rapariga que se desenha entre o hedonismo. A julgar por algumas reacções em festivais internacionais, Hao está mais interessado na vertente sensorial e poética do que na solidez do argumento, mas a temática e as imagens promocionais sugerem um cruzamento de Wong Kar-wai e Xavier Dolan, o que até pode ter alguma graça.