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Muitos discos, alguns filmes, séries e livros de vez em quando, concertos quando sobra tempo

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Fábulas "alla italiana"

"O CONTOS DOS CONTOS" desvia Matteo Garrone de cenários urbanos (sur)realistas para histórias de fantasia de inspiração medieval, pouco óbvias no percurso do italiano. O resultado é muito irregular, mas também muito curioso e imaginativo.

 

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Que fazer depois de "Gomorra" e "Reality", dois dos filmes italianos mais celebrados dos últimos tempos, com o primeiro a abrir caminho para uma série televisiva? A resposta surpreende tendo em conta o que Matteo Garrone deixou nesses dois dramas contemporâneos, cujas histórias terão poucos pontos de contacto com a obra do napolitano Giambattista Basile (1566 – 1632), parte dela adaptada em "O CONTO DOS CONTOS".

 

O escritor, influência assumida dos irmãos Grimm ou de Hans Christian Andersen, destacou-se por abordar conceitos intemporais como o poder, a família ou a beleza, todos presentes nos três contos morais escolhidos por Garrone na sua primeira incursão por terrenos do fantástico. Apesar de decorridas em três reinos próximos, com marcas da Idade Média, as histórias do filme acabam por se desenvolver de forma autónoma, exceptuando um final que junta algumas das personagens principais.

 

Se aqui o realizador se afasta da crueza urbana que dominou os seus filmes mais populares, não abandona completamente o realismo pelo qual se fez notar. O facto de ter rodado várias cenas em cenários reais, com uma sobriedade na manipulação digital, faz maravilhas pela entrada sem reservas neste mundo de reis apáticos ou hedonistas, rainhas e princesas destemidas, irmãs envelhecidas obcecadas com a juventude ou ogres disponíveis para amar (mesmo que apenas nos seus termos), todos embalados pela banda sonora periclitante de Alexandre Desplat.

 

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Há aqui uma vertente artesanal, a milhas da produção recente de Hollywood (tanto da linha de montagem mais genérica como a de universos de Tim Burton, Guillermo del Toro ou Peter Jackson) e de sagas televisivas de apropriação medieval ("A Guerra dos Tronos" e aparentados) que confere uma atmosfera singular e primitiva a estas fábulas. Ao recusar a overdose de efeitos, "O CONTO DOS CONTOS" reforça o deslumbre visual, com Garrone a mostrar-se um notável orquestrador de direcção artística, guarda-roupa e planificação.

 

Também ajuda que não procure chegar a um público dos 7 aos 77: esta fantasia é claramente para adultos, com nudez e sangue incluída, além de violência sem grandes pudores (opção que oferece sequências memoráveis como o duelo quase silencioso com um monstro subaquático, no arranque, ou outro a envolver um malabarista manipulador de fogo, mais para o final).

 

O realizador apontou a influência da pintura e de cineastas conterrâneos (de Fellini a Argento), talvez os maiores responsáveis pela carga de barroco e grotesto de vários momentos (nada que não estivesse já presente em "Reality", ainda que noutro contexto). Só é pena que esse arrojo plástico não tenha grande correspondência no peso dramático dos três contos, envolvidos num novelo narrativo meio desconexo, cujo ritmo nem sempre é o mais certeiro e, pior, nunca leva as personagens para grandes voos.

 

O elenco internacional (Salma Hayek, Vincent Cassel, Toby Jones, John C. Reilly) pode ser um chamariz para muitos, mas acaba praticamente desperdiçado em figuras quase sempre planas, que parecem esgotar-se nas pequenas parábolas que protagonizam. Mesmo assim, a vontade de Garrone contar uma história fora dos eixos injecta entusiasmo suficiente para que estas duas horas se acompanhem sempre com interesse, sempre com surpresas ao virar da esquina - se o argumento não é tão fulgurante como o embrulho, ninguém pode acusá-lo de ser previsível...

 

"O CONTO DOS CONTOS" foi o filme de abertura da 9ª Festa do Cinema Italiano: 8 1/2