Já não é de hoje que os universos da música e da literatura se interligam, com ou sem Nobel para Bob Dylan. E além de outros nomes canónicos (Leonard Cohen, Patti Smith ou Jacques Brel), a ligação passa por canções como o novo single dos DANDY WARHOLS. Não tanto por Courtney Taylor-Taylor, o vocalista e compositor da banda de Portland, ser um letrista de excepção, mas por "CATCHER IN THE RYE" ir buscar o título ao livro mais influente de J.D. Salinger ("À Espera no Centeio" na tradução portuguesa).
A herança do romance de 1951 também passa pelo videoclip do tema, uma versão livre do final da história de Holden Caulfield, em especial do episódio que envolve a sua irmã mais nova e um carrossel. Mas ter lido o livro não é pré-requisito para ver o vídeo e muito menos para ouvir uma das melhores canções de "Distortland", o novo álbum do grupo e o mais conseguido em anos:
Orbital, 808 State, Leftfield, LTJ Bukem. Estas são algumas das pistas que sinalizam o segundo álbum dos DUSKY, "Outer", que chega já no dia 14 e continua o mergulho em alguma música de dança dos anos 90 ouvido no longínquo "Stick By This" (2011) e nos EPs editados pela dupla britânica desde aí (com faixas como "Yoohoo").
Outro mergulho, mais literal, é o do videoclip de "LONG WAIT", motor de um pequeno prodígio técnico que capta, num só take, um homem capaz de manter a respiração no fundo de uma piscina durante os três minutos do single. E o que arranca como uma hipótese de recolhimento torna-se gradualmente num cenário de luz e celebração, à medida de um tema que cruza melancolia e intensidade rítmica (com a voz de Solomon Grey a lembrar a de Thom Yorke, mas nuns Radiohead dispostos a aceitar algum hedonismo).
Entre outras canções que têm aberto caminho para o disco, destacam-se ainda "Songs of Phase", exemplo de pragmatismo techno infeccioso com um sample vocal de Ursula Rucker, ou "Ingrid Is A Hybrid", que parece começar onde terminou "Speedway (Theme from Fastlane)", dos Prodigy, antes de avançar para a house com voz feminina igualmente ancorada em meados da década de 90. E talvez haja melhor a caminho quando Gary Numan está na lista de vocalistas convidados e o sampler do álbum sugere que esta viagem electrónica não se esgota na revisitação dos álbuns favoritos da dupla.